Ferramentas contra a violência têm avanço

19/06/2017
Por Marco Antonio Monteiro
Publicado originalmente no Valor Econômico

A variada oferta de tecnologia para área de segurança se constitui forte aliado para que grandes metrópoles do mundo, em especial as conhecidas como cidades inteligentes, combatam ou minimizem de forma mais eficiente a criminalidade.

A diversidade de aplicativos e sistemas, surgida com o conceito da Internet das Coisas (IoT), que interconecta smartphones, laptops e redes de computadores em geral, se torna sofisticada arma para combater e evitar roubos, furtos e até corrupção e violência policial.

São soluções geradas em universidades, empresas start-up de tecnologia e ONGs especializadas no tema segurança. Muitas delas já estão em teste ou uso intensivo em cidades brasileiras e no exterior.

Algumas das ferramentas mais usadas são o ISPGeo, sistema de georreferenciamento que centraliza dados provenientes das Polícias Civil e Militar e os transforma em mapas e gráficos, permitindo identificação espacial e temporal da maior concentração dos vários tipos de crimes; ShotSpotter, detector de tiros, cujos sensores podem monitorar num tiroteio a origem e calibre das balas; Crowd System, que monitora movimento de grande número de pessoas, em manifestações e grandes festas públicas; e o CopCast, sistema acoplado ao uniforme do policial por meio de celular, que grava áudio e vídeo diretamente na Nuvem (cloud) toda movimentação nas operações de rotina.

O ISPGeo é plenamente usado no estado do Rio de Janeiro, que se tornou quase que um laboratório destes equipamentos no Brasil, por razões de segurança dos megaeventos como Copa do Mundo e Olimpíadas. O sistema, usado desde as Olimpíadas, é alimentado diariamente pela equipe do Instituto de Segurança Pública (ISP), com informações provenientes de registros das Polícias Civil e Militar de diferentes tipos de delitos.

Com diagnóstico mais preciso, transformado em gráficos e mapas, após cruzamento de dados, de hora e local das ocorrências, pode-se tomar melhor decisão sobre emprego de pessoal e viaturas, otimizando a alocação de recursos. A ferramenta foi desenvolvida, em parceria com o ISP, pela ONG Instituto Igarapé, que doou o sistema ao governo fluminense, com recursos obtidos junto a empresários do Rio. “O sistema foi inspirado em exemplos empregados em Nova York, Bogotá, Belo Horizonte e aperfeiçoado para uso no Rio”, explica Robert Muggah, diretor de Pesquisas e cofundador do Instituto Igarapé.

A meta do ISPGeo, conta Muggah, é reduzir o tempo entre o registro do crime e a efetiva ação policial para menos de 12 horas. “Nosso objetivo é termos resposta próxima do tempo real, no mesmo dia do registro da ocorrência”.

Outro bom exemplo é o Copcast, aplicativo móvel para celulares Android, que armazena na Nuvem vídeo, áudio e coordenadas de GPS dos policiais durante a patrulha. O aplicativo também foi criado pelo Instituto Institute, em parceria com a Jigsaw (Google Ideas), com financiamento do Governo do Reino Unido. Está em teste na Bulgária, Ruanda, Brasil (Santa Catarina), África do Sul e Estados Unidos (Nova Jersey).

Embora sejam indiscutivelmente úteis, o preço destas ferramentas às vezes se torna obstáculo para adquiri-los. O sistema de Detector de Tiros (Shot Spotter), por exemplo, chegou a ser aplicado na cidade de Canoas (RS) e no bairro da Tijuca, na Zona Norte, do Rio. Na cidade gaúcha, o sistema chegou até apresentar resultados, como redução da quantidade de armas de fogo, mas foi desativado na renovação do contrato, em razão do aumento do dólar. O mesmo ocorreu no bairro carioca, cuja experiência não chegou ao restante do estado, e acabou desativado.

“Essas tecnologias são patenteadas. E os custos não são baratos para sua implementação”, explica Maria Isabel Couto, pesquisadora e Diretora do departamento de Análise de Políticas Públicas da FGV-RJ.

A pesquisadora discorda, no entanto, que uma das razões que levou ao recente recrudescimento da violência no Rio seja a crise financeira, que afetou o estado. “O problema é de gestão. É difícil trabalhar com policial, que não sabe quando vai receber seu soldo, ou se poderá usar uma viatura por falta de gasolina. Tem-se que definir um projeto de segurança pública. É preciso identificar o que se tem e aonde se quer chegar”.

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