Segurança pública se discute, sim

Em seu novo livro ”Segurança Pública para virar o jogo”, a cientista política Ilona Szabó discute sobre violência no Brasil e a necessidade de uma justiça mais racional

 

 

20/09/2018

Por Ilona Szabó

Publicado originalmente na Revista Trip

O dito popular sustenta que futebol, política e religião não se discutem. A julgar pela exaltação de ânimos que debates relacionados à segurança pública têm provocado, corremos o risco de que ela entre na lista de temas controversos sobre os quais achamos inviável dialogar. Antes que isso aconteça, vale lembrar: somos capazes de falar sobre prisões, polícia, armas e drogas de maneira racional. Mais que possível, isso é necessário. Mesmo porque escolhas sobre como enfrentar a violência que podem parecer individuais têm alto impacto coletivo.

O primeiro passo para uma reflexão mais razoável sobre segurança é fugir de soluções simplistas. A violência nasce de um acúmulo de fatores. Quem diz ter uma resposta mágica para acabar com ela será incapaz de entregar o que prometeu. Buscar dados confiáveis e avaliações sobre experiências já implementadas torna possível sair da superficialidade e derrubar clichês. Alguns exemplos de lugares-comuns deixam isso mais evidente. Mais   prisões por si só não são sinônimo de mais vidas salvas. Baseados nessa falsa afirmação, chegamos ao terceiro lugar no mundo em população carcerária. Já são 726 mil presos. Essa marca não nos impediu de registrar o maior número absoluto de assassinatos no planeta ano após ano. Em paralelo, vimos as prisões dar origem a grupos criminosos organizados e fortalecê-los. Os líderes desses grupos com frequência convivem com pessoas que cometeram crimes sem violência ou mesmo que ainda não foram julgadas, já que 40% dos presos no Brasil são provisórios. Por outro lado, apenas 11% estão ali por terem cometido homicídios.

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