Com Bolsonaro ou Haddad, Brasil caminha de volta para o passado

A julgar pelas propostas dos dois presidenciáveis, os brasileiros escolheram ideias ultrapassadas para o futuro

Por Leo Branco

Publicado na EXAME

“O passado nunca está morto, nem sequer é passado” é uma das frases mais célebres do escritor americano William Faulkner. Presente na obra Réquiem por uma Freira, um drama de 1951 sobre o sofrimento de uma família em meio à violência e à pobreza do sul dos Estados Unidos décadas após o fim da escravidão, a citação sintetiza as feridas mal curadas do passado que voltam a assombrar o presente. Em 2008, a frase já foi parte de um discurso do então candidato democrata à Presidência Barack Obama sobre a situação contemporânea dos negros na América. Três anos depois, fez parte de uma cena de Meia-Noite em Paris, filme do cineasta americano Woody Allen sobre um escritor atormentado com a fixação por uma era que não viveu.

A insistente perenidade do que já passou, especialmente das coisas ruins que deveriam ter sido superadas, serve de boa analogia para o momento político brasileiro. Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, a democracia no país tem, no mínimo, um problema: os brasileiros colocaram para si a escolha entre candidaturas que, de modo diferente, olham para trás para oferecer respostas a desafios urgentes do país. A nostalgia fica evidente no discurso do candidato Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal, favorito a ocupar o Palácio do Planalto a partir de janeiro.

Numa visita a um batalhão da polícia do Rio de Janeiro em 15 de outubro, o capitão reformado disse que o objetivo de seu provável governo seria tornar “o Brasil semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás” na questão da segurança. A frase, porém, acabou reforçando a imagem de que o candidato gostaria de levar o Brasil de volta aos anos de chumbo da ditadura militar.

O aceno ao passado não deve em nada ao tom da campanha petista à Presidência. A começar pelo slogan “O Brasil feliz de novo”, a comunicação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad tenta, com insistência, colar sua proposta às conquistas de governos  petistas, especialmente nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva. Caso isso não mude com o presidente eleito, o que fazer diante das consequências desse passadismo será um desafio enorme por pelo menos quatro anos.

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