No Rio, delegacia no complexo de favelas do Alemão é desativada

A 45ª DP era para ser um símbolo do sucesso das UPPs. Mas os traficantes voltaram a impor o terror e os moradores têm medo até de procurar a polícia.

14/08/2018
Foi ao ar no Jornal Nacional

 

A intervenção federal no Rio de Janeiro decidiu fechar a delegacia que funcionava dentro do conjunto de favelas do Alemão. Não faz muito tempo, no período em que os brasileiros assistiram à libertação de favelas até então dominadas por traficantes, essa área da cidade tinha se tornado um símbolo do esforço pela pacificação das comunidades.

Faz quase oito anos, mas a imagem exibida ao vivo, que rodou o mundo, é difícil de esquecer. Traficantes fugiam enquanto os policias entravam nas favelas do Complexo do Alemão. Foi o primeiro passo para chegada das Unidades de Polícia Pacificadora na comunidade. No fim de 2013, outra conquista dos moradores: uma delegacia – que acabou crivada de tiros.

A implantação de uma delegacia dentro do Complexo do Alemão foi saudada na época como um marco. A 45ª DP era para ser um símbolo do sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora. Mas, com o passar do tempo, foi perdendo sua finalidade. Os traficantes voltaram a impor o terror e os moradores têm medo até de procurar a polícia.

“Quando a delegacia foi instalada ali no Alemão, a gente viu que muitos casos de mulheres que sofriam com violência doméstica começaram a ser registrados naquela delegacia. Mas, depois, com toda a situação de UPP, com toda a violência voltando à tona no Alemão 8 anos após aquela grande ocupação, né, isso caiu muito. Então as pessoas não estavam indo mais na delegacia”, afirma um morador do Alemão.

“É a antiga 45ª DP, que desde o começo do ano já não funcionava. Nós não víamos nenhuma movimentação lá. Mas a gente tem medo que eles destruam tudo, né? Que vire tudo sucata ou que não tenha mais utilidade. Em um momento em que a gente precisa de espaço cultural, escola, um núcleo de extensão da defensoria pública”, diz outro morador.

O fim da delegacia do Alemão foi publicado na segunda-feira (13) no Diário Oficial. O gabinete de intervenção reconhece que o declínio do processo de pacificação dificultou o acesso do cidadão à delegacia e afirma que a baixa incidência de registros de ocorrência na delegacia não justifica a manutenção do aparato estatal necessário para o funcionamento.

“Acho que o mais terrível dessa situação é a gente ver selar o retrocesso. Não foi feito o que deveria ter sido. A gente não desmantelou as organizações criminosas. Nós não fomos atrás de tirar delas o poder econômico, o poder bélico, e isso permitiu que voltasse”, explica Ilona Szabo, especialista em segurança do Instituto Igarapé.

Só em 2018, o Complexo do Alemão teve 150 tiroteios ou episódios com disparos de armas de fogo. O último no fim da tarde desta terça-feira (14).

A delegacia não é o único símbolo da pacificação que ficou para trás. O teleférico do Complexo do Alemão, que foi inaugurado em 2011 e chegou a transportar 9 mil passageiros por dia, está parado há dois anos. O estado não tem dinheiro para trocar um dos cabos de tração.

“Isso faz parte acho que da crise como um todo. A gente precisa de um governo sério, com legitimidade de voto, e que tenha uma agenda muito clara de inteligência, investigação, um policiamento de proximidade. Se a gente começar a voltar na lógica do confronto que a gente seguiu há tanto tempo não é assim que a gente vai vencer”, afirma Ilona.

A Polícia Civil declarou que o atendimento à população não sofrerá prejuízo porque outra delegacia da região vai assumir o serviço.

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