Gabarito dos erros e acertos dos candidatos ao governo do Rio de Janeiro
Por Nathália Afonso
Publicado na Agência Lupa
Há alguns meses, a Lupa checa frases ditas pelos candidatos ao governo do Rio de Janeiro. Durante a campanha, o foco foram os debates e sabatinas promovidos por diferentes veículos de comunicação do país. Selecionamos algumas falas de Eduardo Paes (DEM), Índio da Costa (PSD), Marcia Tiburi (PT), Pedro Fernandes (PDT), Romário (Podemos), Tarcísio Motta (PSOL), Wilson Witzel (PSC),
A Lupa disponibiliza a seguir um gabarito do quiz dos candidatos ao governo de São Paulo. Veja o resultado:
“Quanto mais avança para o interior, [mais o] índice de homicídios vão aumentando”
Eduardo Paes, candidato ao governo do RJ pelo DEM, no debate da Record no dia 29 de setembro de 2018
Dados do Instituto de Segurança Pública mostram que, entre janeiro e agosto deste ano, os municípios do interior do Rio de Janeiro foram responsáveis por 27,02% dos registros de mortes por letalidade violenta no estado. O índice é o resultado da soma dos casos de homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e homicídios decorrentes de intervenção policial. Baixada Fluminense (29,65%) e capital (31,54%) responderam por um percentual maior de casos violentos no estado. No total, ocorreram 4.693 episódios de letalidade violenta nos primeiros oito meses de 2018. Veja os números aqui.
Procurado, Paes informou que “fez uma referência ao fato de que quanto mais a violência no interior aumenta, mais os índices no estado como um todo pioram”.
“[Meu registro de candidatura] foi aprovado por unanimidade pelo Tribunal Regional Eleitoral”
Eduardo Paes, candidato ao governo do RJ pelo DEM, no debate da Record no dia 29 de setembro de 2018
O registro de candidatura de Eduardo Paes (DEM) foi de fatoaprovado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), mas ele só está na disputa por conta de uma decisão liminar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que suspendeu uma condenação feita pelo TRE em 2017. Em dezembro, o tribunal condenou Paes e o deputado federal Pedro Paulo (DEM) por abuso de poder político-econômico. Com isso, ambos se tornaram inelegíveis por oito anos. A liminar vale até que o TSE julgue novamente o caso – o que não tem prazo para ocorrer.
Procurado, o candidato informou que “a decisão do TSE suspende a condenação do TRE”.
“Recebi a relatoria da lei [da ficha limpa]”
Índio da Costa, candidato ao governo do RJ pelo PSD, no debate Folha, UOL e SBT no dia 20 de setembro de 2018
A proposta que deu origem à lei nacionalmente conhecida como “Lei da Ficha Limpa” teve relatoria do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) e foi aprovada em 2010.O site da Câmara dos Deputados mostra que, de fato, Indio da Costa foi relator de uma das propostas de criação da lei, mas o texto que ele relatou não foi votado e consta como arquivado.
Pela proposta arquivada, ficariam inelegíveis os políticos que não cumprissem suas promessas de campanha. No relatório dessa proposta, discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Indio classificou o projeto como “eminentemente louvável” e escreveu o seguinte: “é necessário que extirpemos os ‘estelionatários’ eleitorais das campanhas políticas”.
Esta não é a primeira vez que a Lupa publica esta checagem. Em 12 de setembro, o candidato teve frase semelhante analisada pela agência e classificada como “falsa”. À época, informou que havia sido “o relator da Lei da Ficha Limpa na Comissão de Constituição e Justiça” e que tinha levantado “a bandeira pela aprovação em todo o Brasil”.
Em nota, Indio da Costa afirmou que foi relator da Lei da Ficha Limpa na CCJ, e que “levantou a bandeira” pela aprovação da norma.
“Votei a favor da cassação do Eduardo Cunha e do impeachment da Dilma Rousseff”
Indio da Costa, candidato ao governo do RJ pelo PSD , em entrevista concedida ao RJTV 1, no dia 12 de setembro de 2018
Enquanto ocupava o cargo de deputado federal, Indio da Costa (PSD), de fato, votou a favor da cassação do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) e a favor do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).
“Na época do Lula, o RJ teve abertura de 1,5 milhão de postos de trabalho”
Marcia Tiburi, candidata ao governo do RJ pelo PT, no debate da Record no dia 29 de setembro de 2018
Durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 2003 a 2010, foram gerados 1,011 milhão de empregos de carteira assinada no estado do Rio de Janeiro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Veja os números completos dos oito anos mencionados aqui.
Procurada, a candidata afirmou que fazia referência aos governos do PT, entre 2003 e 2016.
“Uma mulher morre no Estado [do RJ] por dia”
Marcia Tiburi, candidata ao governo do RJ pelo PT, no debate da Band no dia 21 de agosto de 2018
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do RJ, 68 mulheres foram vítimas de feminicídio e 313 de homicídios dolosos em 2017. Consideradas as 381 vítimas fatais desses dois tipos crimes, chega-se a uma média de aproximadamente uma mulher morta no estado do Rio de Janeiro por dia em 2017.
“Mais de R$ 1 bilhão [são] gastos com cargos comissionados”
Pedro Fernandes, candidato ao governo do RJ pelo PDT, no debate da Record no dia 29 de setembro de 2018
Em 2017, o estado do Rio gastou R$ 335,6 milhões com o pagamento dos salários de servidores em cargos comissionados, nos cargos da administração direta e na administração indireta, de acordo com os registros do Caderno de Recursos Humanos da Secretaria de Fazenda e Planejamento. A pasta confirmou os cálculos feitos pela reportagem.
Procurado, Fernandes informou que “é preciso considerar gastos com décimo terceiro salário e férias dos comissionados, além de acrescentar gastos com gratificações especiais”. Dessa forma, segundo o candidato, o gasto com comissionados “ultrapassou R$800 milhões, segundo dados do SiafeRio”.
“Temos hoje 51 mil presos, quando a capacidade seria 28 mil presos”
Pedro Fernandes, , candidato ao governo do RJ pelo PDT, no debate da TV Globo no dia 03 de outubro de 2018
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen) mostra que, em junho de 2016, a população prisional do estado do Rio de Janeiro era de 50.219 – o que corresponde a 6,9% do total de presos no Brasil. Embora tenha pouco mais de 50 mil presos, o RJ tem apenas 28.443 vagas no sistema prisional. O levantamento do Infopen detalha ainda que 48.287 presos estavam privados de liberdade em unidades com déficit, enquanto apenas 1.928 estavam em unidades sem déficit.
“Quarto debate [na TV] e um tema nunca foi colocado: esporte”
Romário, candidato ao governo do RJ pelo Podemos, no debate da TV Globo no dia 03 de outubro de 2018
Ao menos três candidatos – em dois debates diferentes – abordaram o tema esporte no primeiro turno da campanha eleitoral do Rio de Janeiro. No confronto promovido pela Record, no dia 28 de setembro, Pedro Fernandes (PDT) e Tarcísio Motta (PSOL) trocaram ideias sobre o setor e sua relação com o turismo. Pedro falou abertamente na criação de um “calendário esportivo e cultural para o ano inteiro”. Tarcísio concordou. No debate realizado pela Band, no dia 16 de setembro, Indio da Costa (PSD) disse que, quando foi secretário de Esportes de Eduardo Paes, hoje candidato ao governo pelo DEM, tentou fazer “um projeto sociocultural e esportivo” em áreas de UPPs, mas que a proposta não foi adiante.
Procurado, Romário não retornou.
“A intervenção [federal na segurança do RJ] tem mais de 78% de aprovação”
Romário, candidato ao governo do RJ pelo Podemos, em entrevista ao RJTV 1 no dia 14 de setembro de 2018
Pesquisa publicada pelo Datafolha em março deste ano mostrou que 76% dos cariocas eram favoráveis à intervenção do governo federal na segurança do RJ. Levantamento divulgado no último dia 7 pelo mesmo instituto indica que 72% dos entrevistados são “a favor da continuidade” da intervenção federal. Mas na pesquisa feita pelo Ibope e divulgada em 20 de agosto, o percentual foi menor: 55% dos entrevistados diziam aprovar a intervenção.
“A polícia, durante a intervenção, mata seis pessoas por dia”
Tarcísio Motta, candidato ao governo do RJ pelo PSOL, no debate Folha, UOL e SBT no dia 20 de setembro
A intervenção federal no Rio de Janeiro teve início em 16 de fevereiro de 2018. Levando em conta os meses completos em que ela esteve vigente (de março a agosto), foram registrados, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), 814 homicídios decorrentes da intervenção policial. Isso representa pouco mais de quatro assassinatos por dia. Os dados foram levantados pelo Instituto Igarapé.
Procurado, Tarcísio informou, em nota, que se referia ao mês de agosto de 2018, em que foram registradas 175 mortes decorrentes de intervenção policial no Rio – média de 5,645 casos por dia, ocorridos no mês passado.
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