Debate da Band no RJ: Witzel se contradiz sobre Marielle, e Paes, sobre Lula
Por Leandro Resende e Nathália Afonso
Publicado na Agência Lupa
Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM), candidatos que disputam o governo do Rio de Janeiro, participaram do debate promovido pela Band na noite da quinta-feira (18). No evento, trocaram diversas acusações e pedidos sucessivos de direito de resposta. Veja a seguir as checagens da Lupa, em parceria com o Instituto Igarapé.
“Vamos investigar o caso [Marielle Franco] a fundo. Eu vou pessoalmente ajudar com meus conhecimentos na área de homicídios”
Wilson Witzel (PSC)
No dia 7 deste mês, ao falar sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março deste ano no Centro do Rio de Janeiro, Witzel disse que o episódio seria “tratado exatamente como qualquer outro”, em um eventual governo seu.
Ainda vale destacar que, durante sua campanha, o candidato do PSC apareceu ao lado de dois deputados eleitos pelo PSL do RJ que quebraram uma placa com o nome da ex-vereadora morta. Durante ato realizado em setembro, na cidade de Petrópolis, Witzel discursou ao lado de Rodrigo Amorim e Daniel Silveira. Em vídeo, reproduzido nas redes sociais, Witzel é quem faz a gravação enquanto Amorim diz: “Acabou PSOL. Acabou PCdoB. Acabou essa p**** aqui. Agora é Bolsonaro, p***”. Nesse momento, Silveira exibe a placa quebrada para o público, e Witzel vira a câmera para si e diz: “é isso aí, pessoal. Olha a resposta”.
Procurada, a assessoria do candidato disse que Witzel é contra qualquer tipo de intolerância e que já declarou outras vezes “que lamenta a morte de Marielle Franco e de qualquer ser humano em circunstâncias criminosas”. A nota ainda acrescenta que “as investigações de homicídio devem ser conduzidas com rigor”.
“Não sou soldado de Lula nenhum”
Eduardo Paes (DEM)
Em março de 2016, o então prefeito do Rio de Janeiro conversou por telefone com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e falou sobre o avanço da Operação Lava Jato. A conversa foi grampeada pela Polícia Federal e acabou vindo à tona dias mais tarde. Nela, Eduardo Paes manifesta solidariedade ao petista, se diz “grato” e se coloca como um “soldado” do ex-presidente. Veja a transcrição de parte do telefonema:
Paes: Eu vou me trancar em casa, porra. Eu não converso mais com ninguém.
Lula: É isso, querido.
Paes: Mas ó, meu amigo, falando sério: eu tô aqui do teu lado.
Lula: Obrigado.
Paes: Conta comigo aqui. O senhor sabe da minha gratidão, da minha admiração.
Lula: Obrigado, querido.
Paes: Aqui o senhor tem um soldado.
Procurado, o candidato não retornou.
“[Eduardo Paes] Não armou a Guarda Municipal”
Wilson Witzel (PSC)
A Guarda Municipal do Rio de Janeiro não usou armas letais durante a administração Eduardo Paes. Enquanto foi prefeito do Rio, ele não autorizou o uso – proibição que se mantém até hoje. Mas, em junho de 2013, Paes sancionou uma lei que permitia que a guarda utilizasse dois tipos de armas não-letais: “espargidores de agentes químicos incapacitantes” e “pistola elétrica incapacitante”. Paes vetou gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água. O texto sancionado pelo então prefeito ainda exigia que os agentes tivessem “prévia capacitação técnica” para lidar com os artefatos.
Na cidade do Rio de Janeiro, a Guarda é vinculada à Secretaria Municipal de Ordem Pública e obedece ao Poder Executivo local, lembra o Instituto Igarapé. Em junho deste ano, no entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu uma liminar suspendendo trecho do Lei Federal 10.826/2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, que proibia as guardas municipais de cidades com menos de 500 mil habitantes de portarem arma. O Rio está neste grupo.
A Lupa procurou a campanha do candidato do DEM para que ele comentasse essa checagem, mas ele não retornou.
*Esta checagem foi feita em parceria com o Instituto Igarapé.
“O secretário-geral de seu partido [PSC] era subsecretário da Secretaria Estadual de Saúde até abril deste ano”
Eduardo Paes (DEM)
O subsecretário do PSC no Rio de Janeiro, partido de Witzel, é Filipe Pereira, ex-deputado federal pela legenda. E, de fato, Pereira foi subsecretário de Saúde de julho de 2016 a 31 de março deste ano, durante o governo de Luiz Fernando Pezão (MDB). Filipe Pereira também foi secretário estadual de Prevenção à Dependência Química durante o governo de Sérgio Cabral (MDB).
A Lupa procurou a campanha de Witzel e, em nota, o candidato do PSC disse que “Felipe Pereira sempre pautou a sua vida pública pela correção de suas ações”.
“O Pezão declarou voto em você [Eduardo Paes]”
Wilson Witzel (PSC)
Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo no dia 1º de agosto, o atual governador do RJ, Luiz Fernando Pezão (MDB), declarou voto em Eduardo Paes (DEM) na disputa ao governo do estado. Apesar disso, não participou de nenhum horário eleitoral dele nem fez qualquer declaração pública de apoio ao ex-correligionário.
A Lupa procurou a campanha do candidato do DEM para que ele comentasse essa checagem, mas ele não retornou.
“Acabamos de ouvir o candidato do Crivella (…), [Witzel] tem o apoio do Crivella”
Eduardo Paes (DEM)
Na semana passada, o PRB, partido do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, decidiu apoiar o candidato Wilson Witzel para o governo estadual. Antes disso, o próprio Crivella já havia elogiado o ex-juiz federal em um evento realizado no Palácio da Cidade, dizendo que Witzel era um “excelente candidato”.
A Lupa procurou o candidato do PSC e, em nota, sua assessoria disse que “todos os apoios recebidos e aceitos por Wilson Witzel são com base em afinidades programáticas”.
“É você que financia os filhos [de Jorge Picciani]. Rafael Picciani foi seu secretário”
Wilson Witzel (PSC)
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que o comitê de campanha de Eduardo Paes (DEM) fez doações para a campanha de Leonardo Picciani (MDB), filho do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani. Ao todo, o candidato recebeuneste ano R$ 1.928.
Além disso, durante o primeiro mandato de Paes na Prefeitura do Rio de Janeiro, Leonardo Picciani ocupou a Secretaria de Estado de Habitação. Depois que ele deixou o órgão, em 2011, foi substituídopor seu irmão Rafael Picciani (PMDB).
Em 2014, já no segundo mandato de Paes na prefeitura, Rafael voltou a fazer parte do quadro de secretários municipais. Assumiu a pasta dos transportes.
A Lupa procurou a campanha do candidato do DEM para que ele comentasse essa checagem, mas ele não retornou.
“O Pastor Everaldo é investigado na Lava Jato”
Eduardo Paes (DEM)
Pastor Everaldo é presidente nacional do PSC, partido de Wilson Witzel, e foi mencionado na Operação Lava Jato em abril de 2017. Naquele mês, dois ex-executivos da Odebrecht Ambiental prestaram depoimento, como parte de um acordo de delação premiada, e afirmaram à força-tarefa da operação que Everaldo tinha recebido uma doação de R$ 6 milhões via caixa dois em 2014, quando foi candidato à Presidência da República.
A Lupa procurou a campanha do candidato do PSC e, em nota, ele disse que as “acusações ao Pastor Everaldo Pereira partiram de delatores que nunca apresentaram qualquer prova. Tanto que nenhum inquérito contra ele foi aberto”.
Editado por: Cristina Tardáguila