Conheça a primeira mulher do Exército a ser observadora militar da ONU
ENTREVISTA EXCLUSIVA com a primeira observadora militar do Exército
Eduarda Hamann (Instituto Igarapé) entrevista a Tenente-Coronel Andréa Firmo, do Exército Brasileiro, que se apresentou, essa semana, ao Quartel-General da Missão das Nações Unidas para o Referendo do Saara Ocidental (MINURSO). É a primeira mulher do Exército a exercer a função de observadora militar da ONU.
EH: Você é a primeira mulher a desempenhar a função de observador militar da história do Exército Brasileiro. O que a motivou para esse pioneirismo? Quais os principais desafios até o momento?
AF: A minha maior motivação é a possibilidade de fazer a diferença no terreno, sobretudo com relação a grupos vulneráveis que efetivamente precisam de ajuda. Nós, mulheres, temos um olhar sensível, de modo que espero ser uma ponte, um instrumento para fazer reverberar a voz de mulheres e crianças que precisam de ajuda em áreas de conflitos.
O meu principal desafio é a distância da família… Mas os meus três filhos me deram “a maior força” , como eles dizem. Foram muito solidários quando contei que eu poderei contribuir para melhorar, ainda que minimamente, a realidade de outras famílias. Isso me fortalece. Um ano vai passar rápido quando a missão é dessa grandeza!
EH: Qual a sua formação no âmbito do Exército?
AF: Integro o Quadro Complementar de Oficiais (QCO), na área de Magistério (idioma inglês). Sou parte da turma “ Voluntários da Pátria” (1996) da Escola de Administração do Exército, atual Escola de Formação Complementar do Exército.
EH: Como soube da possibilidade de se candidatar para essa missão?
AF: Meus comandantes foram meus exemplos, são fonte contínua de inspiração e me incentivaram a responder afirmativamente à proposta da ONU de aumentar o seu efetivo de mulheres militares em missões individuais. O maior incentivo, cabe registrar, veio da Major Ivana Mara, do COTER (Seção de Missões Individuais). Aceitei o desafio do “sim, sou voluntária” e, depois de alguns meses, recebi a notícia de que eu iria para a missão da ONU no Saara Ocidental.
EH: Qual era a sua função quando foi confirmada a sua designação para a MINURSO?
AF: Eu era a Oficial de Comunicação Social da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e Chefe da Seção de Idiomas (inglês e espanhol). Também coordenava o Curso de Extensão Cultural da Mulher – Edição EsAO/RJ.
EH: Como foi o preparo para essa missão?
AF: Participei de vários cursos nos últimos meses. No Brasil, participei do curso de Military Observers (MilObs) no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB). Além desse, também participei de um curso no Canadá (Military Training Cooperation Programme – Language Teachers Training Course / MTCP-LTTC) e de dois cursos no Uruguai (curso da ONU Mulheres Brasil sobre Mulheres, Paz e Segurança e curso sobre Military Experts on Missions).
EH: Qual a duração da sua missão? E que tarefas você deverá desempenhar?
AF: A minha missão junto à MINURSO terá duração de 12 meses, ou seja, até abril de 2019. Como Observadora Militar, a minha função é observar, monitorar e relatar tudo o que for relevante no contexto da MINURSO, desde aspectos políticos até detalhes relativos às diversas situações enfrentadas no cotidiano da população local. Além de mim, há outros 9 oficiais brasileiros na missão, também atuando como observadores militares.
EH: Quais os objetivos da MINURSO e como você apoiará a ONU a cumprir essa missão?
AF: A região do Saara Ocidental está localizada na costa noroeste da África e faz fronteira com Marrocos, Mauritânia e Argélia. A área, que era colônia espanhola, passou a ser tutelada pelas Nações Unidas em 1963, a pedido do Marrocos. Em 1975, quando a Espanha permite que a área avance em direção ao autogoverno, começaram os combates entre os países fronteiriços e a Frente Polisário. A assinatura de um acordo de cessar-fogo, em 1991, fez com que o Conselho de Segurança estabelecesse a MINURSO, com o objetivo de monitorar tal acordo enquanto se organiza a realização de um referendo, contribuindo para manter, dessa forma, a paz na região.
Espero apoiar a ONU a alcançar os objetivos de manter estável a situação no Saara Ocidental. Desempenharei com afinco as minhas tarefas de Observadora Militar, procurando identificar situações potencialmente problemáticas para prevenir a sua escalada por meio de ações de monitoramento e relato apropriadas e a tempo. Farei o meu melhor, com muita responsabilidade e compromisso. E que, assim, Deus permita que eu também contribua à manutenção da PAZ no Saara Ocidental!