Fazer parte da renovação

Fazer parte da renovação

Há oportunidades reais de mudar o Brasil para melhor
23/05/2018

Por Ilona Szabó
Publicado originalmente na Folha de S.Paulo
Fazer parte da renovação

“Você construiu uma carreira sólida e vai colocar tudo a perder?” Ouvi muito essa pergunta em 2017. Eu nunca pensei em me candidatar a nada, mas ano passado refleti muito ao lado de parceiros que se dispuseram a encarar a questão da renovação política. Fui provocada pelo meu engajamento na fundação do Agora, um movimento criado para aproximar cidadãos da política e torná-la mais participativa.

 

Concorrer a cargo eletivo seria o meu melhor papel em 2018? A resposta é não. Mas, ao me permitir pensar sobre isso, mergulhei na questão e interagi ainda mais de perto com o nosso combalido sistema político. Não foi necessariamente agradável. Quanto mais próximo você chega dele, mais tem certeza que precisa ser transformado, e mais você compreende o quão hercúlea é essa tarefa. O sistema funciona como uma máquina de moer princípios, boas intenções, e nervos. Isso precisa mudar.

 

A pergunta inicial desse artigo foi feita por pessoas de gerações anteriores à minha, que já tinham descoberto o que acabei por perceber pouco depois. Ao mesmo tempo, outros amigos e pares diziam que me apoiariam caso embarcasse nessa arriscada jornada. Acabei por frustrar alguns deles quando reafirmei minha decisão de cumprir meu papel cívico a partir da sociedade, defendendo causas como segurança pública e justiça social, e atuando no Agora, onde temos o compromisso de impactar a agenda pública e de servir em um cargo público em momento oportuno.

 

Uma coisa é certa, você não sai dessa reflexão como entrou. A pergunta sobre como transformar o sistema político brasileiro me acompanha todos os dias. Não há como ignorá-la. Já pagamos um preço alto demais por nos afastar da política e não podemos deixar que a conta aumente ainda mais para gerações futuras. A importância de candidaturas sólidas é indiscutível, mas o engajamento político não se limita a concorrer a uma eleição. A política faz parte do nosso dia a dia e precisa perder a conotação negativa que carrega hoje.

 

Dessa forma creio que o primeiro passo para a transformação política começa dentro de cada cidadão. Entender nosso papel na construção de uma sociedade democrática passa por (re)aprender nossos direitos e deveres no pacto social de convivência em sociedade. Passa também por resgatar valores cívicos como liberdade, responsabilidade e solidariedade, por se envolver em causas que acredita e atuar de onde quer que esteja. Além disso, considere apoiar com tempo e recursos os corajosos novatos que se lançarão aos leões. Não se candidatar não significa ficar de fora da disputa.

 

Acredito que a mudança será feita por coalizões plurais, formadas por pessoas de experiências distintas, mas com objetivos comuns pautados no interesse público. Gente disposta a sair da zona de conforto, ouvir, dialogar e construir uma nova visão de Brasil. Isso demanda planejamento, tempo e paciência. É preciso focar inicialmente as convergências e entender que agir juntos dá muito mais trabalho do que se opor e jogar pedras. Como não existem salvadores da pátria, precisamos do esforço coletivo para atingir o resultado que queremos.

 

A renovação política não é apenas um nome, não é uma só eleição. É um conjunto de ideais e de comportamentos que devem ser adotados por cada um de nós. Estamos apenas no começo de uma longa estrada. Não estamos sozinhos. Há diversas iniciativas de inovação política na América Latina e mundo afora. Sabemos que há riscos gigantescos em todos os lugares. Mas temos a certeza de que há oportunidades reais de mudar o país para melhor. Se para você isso tudo ainda parece um sonho distante ou se quer se engajar e não sabe como, procure um movimento cívico. O ceticismo cederá espaço à esperança.

Ilona Szabó de Carvalho

Cientista política fluminense, é mestre em Estudos de Conflito e Paz por Uppsala.

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