Promover gênero e consolidar a paz: a experiência brasileira

 

Setembro, 2014

 

O Brasil promove ações que reconhecem que a violência baseada em gênero tem efeitos duradouros para a paz e a segurança internacional. Este reconhecimento se dá principalmente através de atividades de proteção no terreno e projetos de cooperação técnica focados na prevenção da violência sexual. Ao mesmo tempo, no entanto, observa-se que o engajamento diplomático brasileiro com essa questão é ainda tímido. Além disso, há lacunas no âmbito das instituições nacionais, particularmente no que tange à equidade de gênero no interior de três grupos-chave: Forças Armadas, corporações policiais e corpo diplomático. Este artigo explora os principais assuntos relacionados ao tema no Brasil e demonstra que:

• Existe um arcabouço normativo e um conjunto de práticas no âmbito da ONU que visam promover a transversalização de gênero para melhorar a atuação da organização no âmbito da paz e da segurança internacional;

• Embora essas normas e práticas sigam uma abordagem abrangente, tendem a enfatizar, de maneira exagerada, a mulher no papel de vítima e podem, assim, reforçar visões estereotipadas da mulher;

• As mulheres estão sub-representadas nas Forças Armadas brasileiras, constituindo apenas 7% de seu pessoal. Elas não têm oportunidades iguais de ingresso, com limitado acesso a certas armas e especialidades;

• As tropas brasileiras em missões de paz atuam com responsabilidade em ações de proteção contra a violência baseada em gênero e impulsionam projetos de impacto rápido que beneficiam e empoderam mulheres locais, particularmente no Haiti;

• A presença de mulheres policiais brasileiras em operações de paz é prejudicada pela ausência de uma política nacional de envio de policiais (homens e mulheres) a missões no exterior;

• O Ministério das Relações Exteriores reconhece a violência baseada em gênero como uma ameaça à paz e à segurança internacional. Com isso, apoia a implementação de projetos de cooperação que visam prevenir este tipo de violência e atender a vítimas. Pelo menos três projetos têm claramente estas características, levados a cabo na Guiné Bissau, no Haiti e na República Democrática do Congo; e

• As mulheres estão sub-representadas na carreira diplomática brasileira e são poucas as que detêm postos de chefia relacionados à paz e segurança internacional.

Com o objetivo de identificar estes avanços e desafios, o artigo está dividido em quatro partes substantivas. A primeira aborda a agenda proposta pela ONU sobre gênero, paz e segurança, e focará nos aspectos práticos e normativos no que tange a uma perspectiva de gênero no âmbito da organização. A segunda sessão inicia a análise do contexto nacional a partir do caso das forças armadas, com foco nos aspectos nacionais que levam à limitada participação de brasileiras em operações de paz. A terceira sessão discorre sobre a participação de policiais brasileiros em missões de paz e, em particular, os desafios estruturais confrontados por mulheres policiais nos âmbitos nacional e internacional. A quarta sessão, por fim, analisa as ações da política externa brasileira no âmbito da agenda sobre gênero, paz e segurança, ponderando também sobre a entrada de mulheres diplomatas no Itamaraty e os desafios confrontados por elas nesta instituição. A sessão de conclusão faz recomendações para avançar a incorporação de boas-práticas em favor de uma política pró-equidade de gênero pelas instituições brasileiras.

VER PDF

The Igarapé Institute uses cookies and other similar technologies to improve your experience, in accordance with our Privacy Policy and our Terms of Use, and by continuing to browse, you agree to these conditions.

O Instituto Igarapé utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e nossos Termos de Uso e, ao continuar navegando, você concorda com essas condições.

Pular para o conteúdo