Linha de frente: lugar a ser ocupado por elas

Mesmo com aumento do número de mulheres nas Forças Armadas brasileiras e mudanças relevantes nas instituições para diminuir diferenças entre gênero, elas ainda não têm acesso à mesma formação que os homens, o que impacta diretamente na evolução da carreira militar

Por Giulliana Bianconi*

“E aí, passou em Física?” A pergunta era feita às atuais cadetes da Marinha, no primeiro ano delas no curso de formação na Escola Naval. Era uma brincadeira, mas quase um deboche, dos colegas homens que também haviam ingressado no curso. É que no currículo dessa primeira turma de combatentes mulheres – que agora está prestes a se formar – a disciplina de Física havia sido substituída por Cultura Organizacional, como mostram as pesquisadoras Renata Giannini, Maiara Folly e Mariana Fonseca no recém-lançado estudo sobre gênero nas Forças Armadas, acessado pela Gênero e Número em primeira mão.

Aquele assunto rendeu. A Marinha justificou a mudança explicando que num primeiro momento as mulheres não precisariam desse conteúdo porque poderiam ingressar em apenas uma das três especialidades relacionadas ao combate existentes na Escola Naval, justamente aquela mais direcionada a questões administrativas, a Intendência. Mas, em seguida, reviu a diferenciação feita no currículo e, no segundo ano do curso, as cadetes passaram a estudar Física. Não seria a única vez que debates como esse, sobre o que podem e o que devem as aspirantes a combatentes, aconteceriam por ali.

“Eu ouvi algumas vezes nas entrevistas de campo que fizemos nas três escolas de cadetes que guerra não é lugar para a mulher”

— Renata Giannini, pesquisadora

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