Igualdade de gênero é essencial para cultura de paz e cidadania no Brasil, diz ONU Mulheres

Março, 2018

ONU BRASIL

 

A igualdade de gênero é fator essencial para criar uma cultura de direitos humanos, paz e cidadania no Brasil, uma vez que os estereótipos são na maioria das vezes nocivos e limitam as oportunidades de meninos e meninas de ser o que quiserem e de realizar seus sonhos.

A avaliação é de Joana Chagas, gerente de programas da ONU Mulheres, que participou de debate na segunda-feira (26) no Rio de Janeiro sobre o papel da educação na formação do cidadão e na consolidação da paz, promovido pelo Instituto Net Claro Embratel.

“A educação é o fator mais transformador do indivíduo e da sociedade. A educação sozinha não vai transformar uma sociedade, mas a transformação não pode ocorrer sem educação”, disse Joana, dirigindo-se a uma plateia de formandos do projeto Dupla Escola, curso técnico profissionalizante em telecomunicações integrado ao ensino médio.

“E por que a igualdade de gênero é importante para uma cultura de direitos humanos, paz e cidadania? Porque a gente sabe que os estereótipos de gênero, que são aqueles papéis que a sociedade, a cultura, atribuem a homens e mulheres, são na maioria das vezes nocivos e limitam as oportunidades de meninos e meninas serem e realizarem seus sonhos”, disse.

Criado em 2014 pelo Instituto Net Claro Embratel em parceria com a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, a Fundação Xuxa Meneghel e a empresa Intel, o programa Dupla Escola formou sua segunda turma de técnicos e técnicas em telecomunicações, tendo como alunos adolescentes de baixa renda, moradores do subúrbio da capital fluminense.

De acordo com Daniely Gomiero, vice-presidente de projetos do Instituto Net Claro Embratel, do total de 126 formandos do curso em 2017, 60% são meninas. “Estou há 17 anos na empresa e, em 2001, eu era responsável pelo recrutamento e seleção. Contratei muitos técnicos e em nenhum processo seletivo havia mulheres. A velocidade da transformação foi muito rápida”, declarou a executiva.

Na plateia, algumas técnicas em telecomunicações pediram o microfone para contar casos de discriminação de gênero no trabalho e na família por terem escolhido uma profissão tradicionalmente ligada ao universo masculino. De maneira geral, esse(a) profissional tem como principais funções instalar, operar e fazer a manutenção de sistemas de telecomunicações.

“Se vocês quiserem pegar uma escada e subir num poste, se quiserem consertar uma TV, porque em telecomunicações também tem eletrônica, vocês podem. Eu sofri discriminação, sofri preconceito e abuso de cliente, nem por isso eu desisti”, disse uma das participantes.

Joana, da ONU Mulheres, afirmou que os estereótipos de gênero também intensificam a violência, na medida em que a ideia de que o homem precisa ser “machão, violento, valente” e a mulher “frágil” reforça essa cultura e uma dinâmica de poder que faz a sociedade aceitar a violência.

“No momento em que a gente desconstrói, questiona esses papéis através da educação com a juventude, a gente cria relações mais respeitosas, respeitando a pessoa por quem ela é, respeita o ‘sim’, o ‘não’, as escolhas, e a gente cria uma relação entre homens e mulheres, mulheres e mulheres e homens e homens que é muito mais pacífica”, disse.

Educação para a construção da paz

Também presente no evento, o chefe de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Brasil, Ítalo Dutra, lembrou que a escola é a porta de entrada para a garantia do direito à educação, mas também da garantia de outros direitos de crianças e adolescentes.

“Não estar na escola muitas vezes significa não estar tendo seu direito garantido, o direito de aprender e se desenvolver; o direito à saúde; o direito à proteção; o direito à vida, inclusive”, declarou durante o debate “Diálogos Gigantes”.

Ele lembrou que metade dos estudantes brasileiros com idade entre 15 e 17 anos não está no ensino médio, enquanto 35% não chegam ao final dessa etapa. Mais de 65 milhões de brasileiros não concluíram a educação básica, salientou.

“Nosso esforço é olhar para cada um deles e estabelecer as ações para garantir que estejam na escola aprendendo com qualidade”, disse. “Ainda são poucos os adolescentes que tem essa oportunidade”.

Caroline Dantas Silva, formanda do programa Dupla Escola, disse que a educação abre possibilidades de ascensão. “Se não estudar, não vai ser ninguém”, disse. “O que é não ser ninguém? É ter negado seu direito de ser você, o direito à vida”.

“Quando a gente incentiva um jovem e mostra para ele que ele tem o poder de ascender de uma forma justa, digna, onde lá na frente ele seja reconhecido por isso, ele não vai procurar outra forma de ascender”, declarou, mencionando que todos os dias vê jovens em seu bairro entrando no mundo do crime.

Moderadora do debate, Ilona Szabó, especialista em segurança pública e diretora-executiva do Instituto Igarapé, citou dados sobre a relação entre escolaridade e criminalidade. No sistema prisional brasileiro — o terceiro maior do mundo —, 75% dos detentos não acessaram o ensino médio. Desses, 55% são jovens, têm entre 15 e 29 anos. Dos cerca de 60 mil brasileiros assassinados todos anos, mais da metade deles tem essa idade.

“É preciso a gente assumir a gravidade de tal quadro, mas também saber que é possível solucioná-lo”, declarou. “Eu vi ao longo da minha trajetória que a única maneira de a gente parar de fato de alimentar o ciclo da violência é investindo em educação”.

Ações das Nações Unidas no Brasil

A ONU Brasil tem uma série de projetos que abordam a questão da igualdade de gênero nas escolas, entre eles, “O Valente não é Violento”, currículo interdisciplinar disponível na Internet (clique aqui) que tem como objetivo abordar questões de sexualidade e de gênero para combater e prevenir a violência contra mulheres e meninas.

O currículo faz parte de iniciativa de mesmo nome que integra a campanha UNA-SE Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, do secretário-geral das Nações Unidas. A ação é coordenada pela ONU Mulheres, tem o envolvimento de todas as agências da ONU e é financiada pela União Europeia.

Já a Busca Ativa Escolar é uma plataforma gratuita para ajudar os municípios a combater a exclusão escolar. Foi desenvolvida pelo UNICEF em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (CONGEMAS) e o Instituto TIM.

A intenção é apoiar os governos na identificação, registro, controle e acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão escolar. Por meio da Busca Ativa Escolar, municípios e estados terão dados concretos que possibilitarão planejar, desenvolver e implementar políticas públicas que contribuam para a inclusão escolar.

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