Cem mil vidas

Por Ilona Szabó

Para a Folha de S.Paulo

Eu trabalho com prevenção e redução da violência há quase duas décadas. De certa forma escolhi trabalhar no campo das políticas públicas, pois tinha muita dificuldade em lidar com a carga emocional e com o sentimento de impotência diante das perdas tão próximas que o trabalho de campo trazia a cada dia. Não é nada fácil digerir as histórias e as lições das mães que perderam seus filhos, as escolhas erradas dos jovens que acabavam arriscando suas vidas por falta de reais oportunidades de um futuro melhor, as conversas com as meninas que engravidam na adolescência em busca de uma identidade, e de algum reconhecimento na sociedade —no país que rouba os sonhos e o potencial de sua gente.

Certamente é menos doloroso lidar com números, projetos e propostas do que diretamente com a tragédia individual brasileira do dia a dia. Nesse sentido, mesmo me deparando com estatísticas absurdas de homicídios e outros crimes violentos todos os anos, de alguma forma consegui manter alguma sanidade mental para seguir meu trabalho, acreditando que algum dia, viver em um país seguro para todos será prioridade não só para alguns, mas para a maioria absoluta dos líderes que governam esta terra sangrenta.

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