Fórum Econômico Mundial chama a atenção para a fragilidade das cidades

Gazeta do Povo

20 de Janeiro, 2017

Cada vez há mais cidades no mundo e são mais ricas, mas ao mesmo tempo seus habitantes estão expostos às consequências das mudanças climáticas, ao terrorismo e ao seu crescimento anárquico, advertem pesquisadores reunidos em Davos.

A fragilidade derivada do rápido crescimento urbano foi uma das preocupações deste ano no Fórum Econômico Mundial (WEF), que é realizado na estação suíça de Davos.

Segundo a consultoria brasileira Igarapé, dois terços da população mundial viverá em zonas urbanas em 2030, contra a metade atualmente. E grande parte deste aumento será proveniente de apenas três países: China, Índia e Nigéria. Paralelamente, algumas “supercidades”, que atualmente já são motores da economia mundial, se parecerão cada vez mais com um país, com um poder e uma influência proporcionais as suas enormes populações.

Mas este crescimento também provoca muita fragilidade. Segundo o estudo da Igarapé, que estabeleceu um ranking de fragilidade das cidades do mundo, quanto maior for seu número, mais vulneráveis elas serão.

Paris, com um índice de fragilidade de 2,18, é mais vulnerável que Dacar (1,33), mas menos que Bagdá (3,88), por exemplo. Entre as 15 mais frágeis estão cidades como Aden, Cabul ou Mogadíscio, mas nenhuma latino-americana. “O mundo está se tornando cada vez mais urbano”, explica o pesquisador canadense da Igarapé, Robert Muggah, “e sua resiliência, êxito ou fracasso, determinará o desempenho de muitos Estados em nível global”.

O conceito de resiliência urbana (capacidade de adaptação) implica que as autoridades comecem a avaliar suas fragilidades e a tomar medidas, explica a geógrafa francesa Magali Reghezza. “Mesmo que não possamos eliminar os riscos, mesmo que não possamos evitar completamente as crises, podemos evitar que se tornem desastres. E, mesmo que ocorra um desastre, a ajuda é possível”, afirma.

As ameaças às cidades no longo prazo

Os atentados recentes demonstraram a vulnerabilidade de cidades como Paris ou Bruxelas, mas no longo prazo há outras ameaças, como o aumento do nível do mar ou o crescimento descontrolado nas zonas urbanas.

Este crescimento ocorre em muitos casos sem as infraestruturas básicas – como instalações sanitárias ou estradas – necessárias para que o crescimento seja sustentável.

“O mundo urbano enfrenta três ameaças: riscos naturais, em particular os derivados das mudanças climáticas e suas consequências nos oceanos, ‘apagões’ tecnológicos e terrorismo de massa”, disse Reghezza.

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, explicou que, assim como outras cidades, nomeou um “responsável de resiliência” para enfrentar as ameaças mais imediatas para a capital francesa, as inundações e a segurança. “Estamos muito comprometidos nesta questão”, disse à AFP.

Cerca de 50 cidades do mundo também têm pessoas responsáveis por este campo, segundo a fundação Rockefeller, que lançou um projeto chamado “100 cidades resilientes” para assessorar os prefeitos.

Mas a proteção diante das ameaças tem um custo muito alto. Segundo dados do Banco Mundial, o investimento global para melhorar as infraestruturas urbanas, melhorando o transporte ou controlando as inundações, é de mais de 4,5 trilhões de dólares por ano.

Além disso, se as autoridades quiserem que estas infraestruturas sejam pouco poluentes e resistentes às mudanças climáticas, o número é muito maior. As companhias de seguro já advertiram que os custos estão subindo e as medidas necessárias não estão sendo tomadas.

Em 2016, os desastres naturais provocaram danos no valor de 175 bilhões de dólares, um nível que não era alcançado desde 2012, segundo dados da companhia resseguradora alemã Munich Re.

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