Atentado terrorista no Egito é a trágica nova normalidade

Folha de S. Paulo

Novembro, 2017

O brutal ataque terrorista desta sexta-feira (24) no Egito é um lembrete de como a ampla maioria de atentados dessa natureza acontece em cidades desconhecidas, longe das manchetes e da mídia.

O assassinato de 235 praticantes sufis em Bir al-Abed representa uma perigosa escalada da violência no Sinai. É também um sintoma da dramática expansão do terrorismo em todo o norte da África e no Oriente Médio ao longo da década.

Um estudo lançado recentemente englobando mais de 1.300 cidades mostrou que os centros urbanos de Egito, Afeganistão, Iraque, Líbia, Nigéria, Paquistão, Somália e Síria são muito mais vulneráveis ao terrorismo que os do
Reino Unido, França e Estados Unidos. Cidades como Bagdá, Mogadíscio, Carachi e Cabul tiveram dezenas de milhares de assassinatos desde 2006.

Desde 2011 o Egito vive um aumento agudo na violência extremista, especialmente desde a eclosão da insurgência islâmica, há quatro anos. Dos 2.340 ataques registrados pelo Global Terrorism Database desde 1970, a maioria esmagadora aconteceu entre 2012 e 2016. Houve mais de 200 mortes derivadas de atos terroristas em 2013 e outras 370 em 2015, com uma leve queda para 160 óbitos em 2016. Este ano provavelmente será o mais violento registrado.

A única certeza é que o cenário é sombrio: haverá mais ataques terroristas como esses. O modo mais eficaz de combatê-los é intensificar os esforços para resolver o conflito armado na região. Dada a tensão geopolítica em ascensão, isso parece pouco provável em curto prazo. No entanto, mesmo que não seja possível prevenir totalmente a violência terrorista, há diversas estratégias que podem limitar seus efeitos.

Grupos terroristas procuram alvos “leves” —locais com grandes chances de reunir pessoas— com o objetivo de paralisar e sabotar as cidades. O ataque à mesquita Al-Rawdah se encaixa nesse perfil. De fato, as cidades e seus habitantes são o alvo desses grupos, não um dano colateral. Grupos terroristas como Al Qaeda, Al Shabaab, Boko Haram e o Estado Islâmico são especialistas em segregar grupos populacionais. Ao bombardear mercados públicos, terminais urbanos, estádios esportivos, teatros e delegacias, forçam a população a se refugiar em casa, criando cercos físicos e psicológicos.

Um número crescente de cidades têm desenvolvido resiliência para responder ao terrorismo urbano. Procedimentos mais comuns incluem estreitar a cooperação entre órgãos de inteligência, reforçar a vigilância em espaços superlotados e em locais desprotegidos, investir em relações de policiamento inteligente, criar barreiras físicas ao redor de prédios governamentais e de grandes empresas, e formar conselhos antiterrorismo. O grande desafio é minimizar os riscos de terrorismo sem sufocar a vida das cidades.

Para lidar com essas ameaças, as cidades precisam pensar além. Prefeitos e secretários de segurança precisam considerá-las como o novo normal, investindo em prevenção e gestão de crise. Empresas precisam atualizar regularmente seus planos de continuidade de negócios e as administrações públicas precisam melhorar a comunicação interagências para diferenciar o que é indício e o que é apenas ruído. É quase inevitável concluir que os prefeitos ao redor do mundo vão precisar se adaptar a esta nova normalidade.

A onda crescente de terrorismo no Egito

2010
Imagem: Carnegie Mellon

2011
Imagem: Carnegie Mellon

2012
Imagem: Carnegie Mellon

2013
Imagem: Carnegie Mellon

2014
Imagem: Carnegie Mellon

Imagem: Carnegie Mellon

2016
Imagem: Carnegie Mellon

The Igarapé Institute uses cookies and other similar technologies to improve your experience, in accordance with our Privacy Policy and our Terms of Use, and by continuing to browse, you agree to these conditions.

O Instituto Igarapé utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e nossos Termos de Uso e, ao continuar navegando, você concorda com essas condições.

Pular para o conteúdo