Ao menos 50 milhões de brasileiros perderam alguém próximo assassinado, indica pesquisa 

Diagnóstico é de campanha pela redução de homicídios Instinto de Vida, lançada hoje.

Segunda-feira, 8 de maio de 2017

Pelo menos 50 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais tiveram conhecido, amigo ou parente vítima de homicídio ou latrocínio, indica a pesquisa inédita Instinto de Vida, encomendada pela campanha e produzida por Datafolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Mais de um terço (35%) dos entrevistados Ícono-Web5.pnginformaram ter perdido alguém próximo em decorrência da violência letal.

O estudo foi batizado em referência à campanha latino-americana de mesmo nome, apresentada, juntamente com a pesquisa, nesta segunda-feira, 8 de maio. A iniciativa – cuja meta é reduzir os homicídios na região em 50% em 10 anos – é integrada, no país, por Anistia Internacional Brasil, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Instituto Igarapé, Instituto Sou da Paz, Nossas e Observatório de Favelas.

“O cenário de homicídios na América Latina é sem precedentes”, afirmou a diretora do Instituto Igarapé, Ilona Szabó de Carvalho, no lançamento da campanha esta manhã no Rio de Janeiro. “Preparamos um guia de elaboração de planos de redução de homicídios, com políticas eficazes – como policiamento inteligente; políticas de prevenção e reabilitação; intervenção urbana; regulação responsável de álcool, drogas e armas; e fortalecimento das capacidades de investigação policial e do sistema de justiça criminal”, detalhou.

“Precisamos romper com a lógica da guerra na segurança pública. É necessário que nossas políticas sejam voltadas para a valorização da vida para mudarmos esse cenário”, acrescentou a diretora do Observatório de Favelas, Raquel Willadino. “Há ainda a seletividade nas políticas de segurança pública, e nós precisamos mudar esse rumo”, continuou.

Quatro em cada 10 homens perderam conhecido, amigo ou parente

De acordo com a pesquisa Instinto de Vida, a incidência de pessoas que conhecem vítimas de homicídios ou latrocínios é maior entre os homens (40%, contra 31% entre mulheres). A violência está mais próxima do cotidiano dos negros do que dos brancos: enquanto 38% da população negra tem alguém próximo que foi assassinado, a incidência entre a população branca é de 27%.

“Se os homicídios crescem, crescem basicamente na população negra. É preciso que as vidas de negros e negras, de pessoas que vivem nas favelas, importem”, declarou a diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck.

Quase 16 milhões de brasileiros (o que equivale a 12% dos entrevistados) tiveram um parente, amigo ou conhecido morto pelas polícias ou guardas municipais. Entre as pessoas que passaram por tal situação, o maior índice ocorre entre jovens de 16 a 24 anos. “É inadmissível que agentes do Estado perpetuem a lógica homicida; a campanha busca conscientizar também por essa perspectiva”, complementou Jurema.

Os números indicam ainda que ao menos 4,9 milhões já sofreram algum ferimento por arma de fogo. Em relação à percepção da população sobre questões relativas à violência, 94% dos entrevistados creem que o nível de homicídios no país é alto ou muito alto. Também para uma imensa maioria (96%), os governos precisam se unir para diminuir o crime e a violência. Todos os entes federativos são responsabilizados por garantir segurança pública à população.

“Os dados mostram que uma percepção sobre o alto número de homicídios atravessa diferentes camadas sociais: essa é uma das maiores provas que precisamos concentrar esforços para mudar as políticas de segurança e preservar a vida”, afirmou a representante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cristina Neme.

Chega a 78% a fatia da população que concorda que, quanto mais armas em circulação, mais mortes teremos no país. “Os dados apontam uma percepção da sociedade sobre o perigo de mais armas em circulação no país”, disse o assessor para advocacy do Instituto Sou da Paz, Felippe Angeli, que afirmou ainda que “é importante que haja uma valorização da vida e da investigação nas políticas de segurança pública”. Para 93% dos entrevistados, a polícia deve preservar a vida acima de tudo e, para 92%, todos têm direitos iguais, que devem ser respeitados pelos agentes estatais.

A pesquisa Instinto de Vida foi realizada entre os dias 3 e 8 de abril de 2017, em 150 municípios de pequeno, médio e grande porte. A amostra considerada é de 2.065 pessoas. A margem de erro para o total da amostra nacional é de 2,0 pontos para mais ou para menos.

Portal Vivos em Nós vai homenagear vítimas

A primeira ativação da campanha Instinto de Vida é o portal Vivos em Nós (www.vivosemnos.org), cujo objetivo é manter viva a memória de vítimas de homicídios para mobilizar a sociedade em relação à redução de homicídios. Ícono-Web5.pngParentes e amigos poderão criar páginas exclusivas, com imagens, mensagens e informações sobre os casos. As homenagens serão usadas para, posteriormente, gerar conteúdo para pressionar autoridades a adotarem políticas públicas a fim de reduzir a violência.

“Essas homenagens servem para lembrar a todos nós, como sociedade, que políticas repressivas não são o caminho. Não é pelo viés de políticas vingativas que temos que lidar com a violência”, disse o diretor do Nossas, Miguel Lago.

Campanha reúne dezenas de organizações da América Latina

A campanha Instinto de Vida é um chamado à ação voltado a autoridades e cidadãos para reduzir os homicídios em sete países da América Latina – além de Brasil, participam Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Venezuela. Ao todo, 32 organizações integram a iniciativa, que tem apoio da Open Society Foundations e de organizações como Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e Organização dos Estados Americanos (OEA). A América Latina concentra apenas 8% da população, mas 38% dos homicídios no mundo. São 144 mil assassinatos por ano na região, quase 60 mil deles no Brasil. Mudar esse cenário é tanto necessário quanto possível. Instinto de Vida promoverá políticas públicas cuja eficácia é demonstrada por evidências.  

Acesse: www.instintodevida.org

Informações para a imprensa: contato@instintodevida.org

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