Nota à Imprensa sobre mortes em operação policial no Jacarezinho

É inaceitável que a política de segurança pública do Rio de Janeiro aposte em letalidade como estratégia

O Instituto Igarapé lamenta profundamente a morte de 25 pessoas, incluindo um policial civil, em operação da Polícia Civil no Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (6/5). É inaceitável que a política de segurança pública do estado continue apostando na letalidade como principal estratégia, sobretudo em áreas vulneráveis. Privilegiar o confronto indiscriminado coloca nossa sociedade e nossos agentes públicos em perigo. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), a polícia do Rio foi responsável pela morte de 453 pessoas entre janeiro e março deste ano. O número já representava 36% do total registrado em 2020, quando foram registradas 1.245 vítimas.

O Instituto Igarapé desenvolve, há 10 anos, estudos que buscam fornecer insumos para a construção de políticas públicas responsáveis e eficientes. Nas agendas de segurança pública Rio Seguro e Segurança Pública é Solução, de 2018, tratamos da necessidade de uma política integral de segurança, com ênfase na prevenção da violência e no uso de inteligência. Reforçamos também a importância do uso proporcional da força para proteger a sociedade e os profissionais de segurança pública. Recentemente, lançamos “O reconhecimento como um estímulo a boas práticas: uma agenda de valorização policial”, que trata justamente da necessidade de disseminarmos práticas que reconheçam os policiais como guardiões, não apenas como guerreiros e heróis.

O episódio no Jacarezinho ocorre em meio à maior tragédia sanitária que já vivemos, com 400 mil mortes registradas. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal restringiu operações policiais nas favelas do Rio para casos absolutamente excepcionais, considerando o seu uso indiscriminado, sobretudo durante a pandemia da Covid-19. A decisão vem sendo desrespeitada de maneira sistemática. A decisão foi tomada no âmbito da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, conhecida como “ADPF das Favelas”.

Vale lembrar que além do Executivo Estadual, que comanda as polícias, o Ministério Público é responsável pelo controle externo das atividades dessas corporações. Recentemente, o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Gaesp/MPRJ), com papel fundamental nesse tema, foi extinto. Criou-se a Coordenadoria-Geral de Segurança Pública, com funções administrativas e de articulação. É preciso atenção para que o controle das ações realizadas pela polícia seja mantido.

As primeiras informações dão conta de que a operação no Jacarezinho tinha como objetivo enfrentar uma organização criminosa que seria responsável por homicídios, roubos, sequestros e tráfico. Não se trata de ser conivente com o crime, mas o resultado visto até agora são pessoas mortas, feridas e em pânico, algumas delas surpreendidas em meio à rotina de uso do transporte público e dentro de suas casas. Esse tipo de operação não desarticula grupos criminais, apenas causa dor e gera desconfiança. O impacto social desse caso ainda é inestimável, mas certamente vai durar anos. 

Para mais informações e entrevistas, por favor, entre em contato por meio do e-mail: press@igarape.org.br.

The Igarapé Institute uses cookies and other similar technologies to improve your experience, in accordance with our Privacy Policy and our Terms of Use, and by continuing to browse, you agree to these conditions.

O Instituto Igarapé utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e nossos Termos de Uso e, ao continuar navegando, você concorda com essas condições.

Pular para o conteúdo