Robert Rotberg: ‘bureaucreacy feeds corruption’

O Globo

April, 2017

Referência mundial em governança, americano deu palestra no Rio a convite da FGV Direito e do Instituto Igarapé

“Tenho 82 anos, nasci em New Jersey e estudei em Princeton e Oxford. Sou professor aposentado de Ciência Política do MIT e de Harvard e fui presidente da World Peace Foundation entre 1993 e 2010. Vim ao Brasil compartilhar meus conhecimentos sobre o fenômeno da corrupção.”

Conte algo que não sei.

O Brasil é muito mais complexo do que qualquer pessoa na América do Norte imagina, e a sua corrupção é muito mais complexa do que qualquer um tem ideia. O que eu também posso dizer é que o Brasil não é um país, e sim muitos. Esses países precisam ser integrados, algo que uma liderança política precisará fazer no futuro.

Sua pesquisa mais recente se desdobra sobre a corrupção. O que ela apresenta de mais atrativo para os brasileiros?

O mais importante é que exista uma liderança responsável. A corrupção é destruída quando líderes ganham importância. A chave para o fim da corrupção está na decisão, na iniciativa de cortar o mal, a cabeça da serpente. Em Hong Kong, Cingapura, Tanzânia, e até na Argentina, o combate à corrupção melhorou com a liderança

No caso do Brasil, o que seria exatamente a cabeça da serpente?

Claramente, são as pessoas que por décadas e décadas trataram a corrupção como parte do processo político. Não sou expert em assuntos políticos brasileiros, mas acho que isso começou com Getúlio Vargas e continuou com os militares, particularmente. Certamente, por algum momento, houve um tipo de corrupção que acabou sendo aceita pelo povo e, certamente, pela classe política, tanto nos estados como a nível de federação, ao longo do século 20.

Há uma crença de que a corrupção no Brasil é algo cultural. Esse pensamento procede?

Não, de forma alguma. Todas as pessoas no mundo querem se livrar da corrupção porque ela dificulta o progresso e o desenvolvimento econômico. Não acho, por exemplo, que o período colonial tenha qualquer relação com a corrupção no Brasil. Mas acredito que, politicamente, Getúlio Vargas foi muito corrupto. Mesmo que tenha se assumido como pai dos pobres, ele foi também o pai da corrupção.

Por que essa visão sobre Vargas?

Ele institucionalizou a natureza da classe política. Não tenho como saber se, pessoalmente, ele foi corrupto, mas permitiu que as pessoas ganhassem favores a partir de um Estado regulatório. A partir de Vargas, o Brasil se tornou uma uma nação excessivamente burocrática. Com tantas regulações, vem a corrupção. A burocracia alimenta a corrupção. Uma coisa está ligada a outra.

Apesar de todos os escândalos atuais, os brasileiros estão indo em direção a um caminho político melhor?

Um bom escândalo merece uma boa resposta positiva. Você se aproveita do que está acontecendo, busca possíveis soluções e cria um resultado melhor. É muito importante que alguém se aproveite do escândalo para melhorar as coisas.

Segundo um artigo seu, o juiz Sérgio Moro poderia ser uma liderança que transformaria o país. Por que?

Ele mostrou que é possível não ser tolerante com a corrupção e já é popular na sociedade civil. A partir de Moro, começa a haver uma mudança nas atitudes públicas e políticas: mais pessoas passam a querer ser como ele. Isso cria um efeito bola de neve.

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