Brasil promove a igualdade de gênero como caminho para a paz

 

Outubro, 2015

 

Flickr_-_Israel_Defense_Forces_-_First_Ethiopian_Ordnance_Officer_in_Israeli_History

O Brasil comprometeu-se a ampliar seu papel na promoção da igualdade de gênero como forma de promover a paz duradoura. Na última terça-feira, anunciou que se juntará aos 54 países que aprovaram um Plano Nacional de Ação (PNA) com base na Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU. Tal declaração coincide com o 15º aniversário desta resolução que fundou a Agenda ‘Mulheres, Paz e Segurança’ (MPS) e com o lançamento do estudo global sobre a sua implementação. Resta agora atentar para que o processo de elaboração do plano brasileiro seja inclusivo, transversal e interinstitucional. Afinal, a promoção da igualdade de gênero fora de casa depende também do contexto nacional e do comprometimento do governo e da sociedade.

Esta agenda é conformada por oito resoluções que, além de promover a liderança de mulheres, atenta para o uso da violência sexual como arma de guerra. A agenda já deu importantes passos, como a promoção de um arcabouço normativo e institucional no âmbito da ONU, e a criação de posições de liderança para a prevenção da violência sexual em conflito. No terreno, também foram criadas unidades de gênero responsáveis por garantir que as necessidades específicas de mulheres e meninas fossem levadas em conta. Houve também a elaboração de treinamentos, voltados para a proteção contra crimes baseado no gênero, guias de conduta e manuais, entre outros. Estes contribuíram para avançar o entendimento de que a paz só será sustentável quando alcançada por todos, inclusive pelas mulheres.

Apesar dos avanços normativos, persistem desafios. Há uma sobrevalorização da agenda voltada para a proteção, também central, mas que pode reforçar estereótipos. A mulher é percebida mais como elemento vulnerável a ser protegido do que como agente de paz e de transformação. Além disso, por vezes, a violência sexual é vista como consequência da dinâmica nefasta dos conflitos, e não como um crime detestável e desumano. Lembremo-nos de que nem toda violência sexual em conflito é uma arma de guerra e que ela também ocorre em ambientes pacíficos. No fim das contas, crimes como este têm a ver com a desigualdade de gênero e com o status diferenciado que homens e mulheres têm na sociedade. Para proteger, é preciso empoderar.

Esta agenda e um plano de ação podem ser fundamentais para a promoção da igualdade de gênero. Não somente em nações devastadas pela guerra, mas também em países que se propõem a promover a paz. Nos últimos anos, o Brasil deu passos importantes, tanto por meio do de programas de cooperação sul-sul que incluem atividades de formação e capacitação para o enfrentamento da violência baseada em gênero, como por meio do avanço de uma  maior participação feminina nas forças armadas brasileiras.

A notícia de que a Força Aérea, a Marinha e o Exército estão caminhando para uma incorporação cada vez maior das mulheres – inclusive em armas de combate – merece ser celebrada, mas não deve silenciar o fato de que o número de mulheres nas Forças Armadas Brasileiras ainda é baixo, cerca de 7%. Nos Estados Unidos a porcentagem é de 14,6%, na França 15,2%. Nesses países, mulheres militares já podem exercer altos postos de comando. Se, por um lado, a abertura às mulheres reforçaria a capacidade de combate e comando destas, por outro, expõe a necessidade de esforços de integração efetivos que gerem um ambiente que permita que mulheres atuem de maneira eficaz e segura.

A agenda, no entanto, não se limita às Forças Armadas. É preciso que o Brasil melhore sua capacidade de empregar policiais mulheres ao terreno. Estas devem estar aptas a assumir posições de liderança e sua atuação não deve ser restrita a atividades de menor risco que as exercidas pelos homens. No plano externo, a inexistência de uma política nacional de envio de policiais do sexo masculino e feminino a missões fora do País dificulta a presença de policiais brasileiras em operações de paz. Os desafios atuais demandam um maior envolvimento de instituições ligadas ao estado de direito e ao setor de segurança. Demandam também o aumento do número de diplomatas e civis brasileiras envolvidas nesse processo, estejam elas sentadas à mesa de negociação ou atuando no terreno.

Se bem-sucedido, o esforço de promoção de maior igualdade de gênero no Brasil reforçará a ambição do País de ampliar sua contribuição para temas que dizem respeito à segurança internacional. O envolvimento de diversos setores do governo e da sociedade, inclusive a sociedade civil e a academia, na elaboração deste plano é fundamental para que este seja um instrumento de promoção da igualdade de gênero de fato e não somente normativa.

Por Renata Giannini, Maiara Folly, Pérola Pereira e Mariana Lima publicado em Estadão

The Igarapé Institute uses cookies and other similar technologies to improve your experience, in accordance with our Privacy Policy and our Terms of Use, and by continuing to browse, you agree to these conditions.

O Instituto Igarapé utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e nossos Termos de Uso e, ao continuar navegando, você concorda com essas condições.

Pular para o conteúdo