Valorizando as sinergias: como os BRICS podem impulsionar soluções para o clima e a biodiversidade
Novo relatório do Instituto Igarapé destaca o potencial do BRICS em desempenhar um papel fundamental na reforma da governança global e no enfrentamento da Tripla Crise Planetária.
BRICS devem aprofundar cooperação, aproveitando inovações em áreas como energia renovável e conservação da biodiversidade.
Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) precisa ser ainda mais fortalecido para financiar a transição ecológica no Sul Global.
Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2025 – O grupo BRICS inclui alguns dos países mais biodiversos do mundo e, ao mesmo tempo, alguns dos maiores emissores de gases de efeito estufa. Figuram também entre os grandes produtores e consumidores globais de energia. Os dez países que compõem o BRICS representam aproximadamente 28% do PIB e 40% do comércio global de bens. Coletivamente, alocaram 2,4 milhões de dólares para iniciativas climáticas desde 2015, por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), tornando-o o maior provedor multilateral de financiamento climático para bancos de desenvolvimento nacionais. Em última análise, trata-se de uma coalizão central no enfrentamento dos desafios globais relacionados à conservação da biodiversidade e à descarbonização.
O mais recente relatório da série Global Futures Bulletin – “Os BRICS e os desafios da descarbonização e proteção à biodiversidade“, explora a posição global atual do BRICS como bloco e as oportunidades de elevar suas ambições para liderar uma descarbonização mais robusta e a proteção da biodiversidade dentro do grupo. O estudo conclui que o BRICS não está apenas promovendo o desenvolvimento sustentável e a governança ambiental, mas também abriga vastos ecossistemas e recursos naturais críticos, estando em uma posição privilegiada para impulsionar os esforços globais de conservação da biodiversidade e justiça climática.
Os países-membros do BRICS enfrentam múltiplas ameaças aos seus ecossistemas, como desmatamento e poluição. Representando aproximadamente 47% da população mundial, o BRICS inclui China, Índia, Rússia, Indonésia, Brasil e Irã – que estão entre os 10 maiores emissores globais de carbono. O relatório descreve como os componentes do BRICS produzem, coletivamente, cerca de 28% do petróleo bruto e consomem 27% das importações globais de petróleo.
Ainda assim, vários países do BRICS estão liderando a transição para a energia verde. Brasil e Etiópia, por exemplo, possuem matrizes energéticas limpas, com 91% e 99% de sua energia gerada a partir de fontes renováveis, respectivamente. Portanto, o BRICS desempenha um duplo papel, sendo tanto uma potência energética quanto um ator crucial na transição global para a energia sustentável. O relatório destaca o potencial significativo dos membros do para inovar em áreas como mercados de carbono e agricultura sustentável.
“Os membros do BRICS refletem geografias, economias e ecossistemas diversos, tornando sua colaboração essencial para alcançar resultados ambientais equitativos e sustentáveis. Apesar de enfrentarem divergências internas, os países do BRICS têm adotado posições comuns em temas como financiamento climático e transferência de tecnologia”, afirma Laura Trajber Waisbich, diretora adjunta de programas do Instituto Igarapé.
À medida que a aliança do BRICS se expande, sua influência na governança ambiental global também cresce. O grupo e seus membros vêm alinhando cada vez mais suas prioridades a marcos internacionais como a Convenção sobre Diversidade Biológica (1992) e o Acordo de Paris (2015). O posicionamento estratégico dos BRICS como uma coalizão do Sul Global potencializa sua capacidade de defender soluções equitativas que enfrentem os impactos desproporcionais das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade nos países em desenvolvimento. “À medida que o mundo enfrenta crises ambientais cada vez mais intensas, a capacidade do grupo de conectar a proteção da biodiversidade ao desenvolvimento socioeconômico oferece um caminho transformador para o Sul Global”, acrescenta Waisbich
Os BRICS sediarão diversos diálogos ambientais importantes nos próximos anos, incluindo contribuições para a agenda da COP30 no Brasil, em 2025. O país também ocupa a presidência do bloco este ano e poderá intensificar o foco do grupo na proteção da biodiversidade e no desenvolvimento sustentável. O papel de liderança do Brasil oferece ainda uma oportunidade única para moldar a agenda do bloco e reforçar os compromissos com o multilateralismo de forma mais ampla.
“Os BRICS fizeram progressos em descarbonização e biodiversidade, mas enfrentam desafios para transformar compromissos em ações devido aos contextos econômicos e ambientais variados. Para superar isso, o grupo deve aprofundar a cooperação, aproveitando inovações existentes em áreas como energias renováveis e conservação da biodiversidade. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) deve ser fortalecido para financiar transições ecológicas no Sul Global. Além disso, é crucial melhorar a coerência das políticas e reconhecer as interconexões entre descarbonização e biodiversidade. Ao aprimorar as sinergias em iniciativas globais, os BRICS podem desempenhar um papel central na reforma da governança global e no enfrentamento da Tripla Crise Planetária”, conclui Waisbich.
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