Aplicativo contribui em pesquisa para mostrar a percepção da criança sobre violência

Mostrar quem são, como vivem e de que forma e onde as situações de violência ocorrem são os objetivos do Índice de Segurança da Criança, promovido pelo Instituto Igarapé. Contemplado pelo Desafio de Impacto Social Google Brasil 2014, a organização recebeu apoio financeiro para desenvolver um aplicativo para mensurar como as crianças vivenciam a violência nos grandes centros urbanos do país.

No primeiro ano, o objetivo é atingir uma população de 3 mil crianças, moradoras de áreas urbanas de baixa renda e inseguras das cidades de São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. Até final de 2015, a proposta é implementar o índice em mais cidades do Brasil.

Para entender como foi desenhada e pretende ser implementada, a pesquisadora Leriana Figueiredo, do Instituto Igarapé, fala sobre a criação do projeto do aplicativo, formação dos entrevistadores, coleta de resultados e status do projeto hoje.

Usando uma metodologia simples de diagnóstico, o aplicativo permite o mapeamento e a visualização de dados de como as crianças estão em situação de vulnerabilidade percebem a insegurança. A ferramenta contribui com os indicadores que captam a percepção da criança sobre os impactos psicológicos, emocionais e físicos sobre a insegurança; esses dados podem ser agrupados por temas e desagregados por variáveis selecionáveis e coordenadas geográficas coletadas durante a pesquisa.

Criação

A organização atua com mapeamentos de dados, visualização e produção de conteúdos e advocacy em torno de algumas agendas. Um dos programas é de segurança cidadã. A ideia do índice vem da motivação sobre a situação de violência em torno da criança, não só do Brasil. Há pesquisas baseadas nos dados fornecidos pelo sistema de garantia de direitos, porém a pesquisadora sinalizou que poucos dados são originados da criança como protagonista. Nesse levantamento há dois diferenciais: trazer a criança como autor dessa fala e ter sido feito com código aberto, disponível para qualquer um baixar.

No Brasil, são 16.349.557 crianças e adolescentes de cinco até 14 anos, sendo que o disque denúncia recebe em média 129 casos por dia de violência psicológica e física contra elas.

Com esse cenário, a proposta do levantamento é abordar questões de violência no ambiente escolar, a comunidade e as pessoas com quem se relaciona no dia a dia. O questionário possui perguntas objetivas e rápidas de serem respondidas na plataforma. São 10 minutos para sua aplicação. “Em todas as questões, tivemos um cuidado ético, um preparo para abordá-las, sua linguagem, e cuidado para não vitimizar a criança”.

Para a construção da ferramenta, foram de dois a três meses. Passou ainda pela avaliação por um grupo de especialistas da área da infância e juventude, para falarem sobre a ética nas questões e dos termos utilizados. Após essa consulta, foi feito já nas seguintes cidades: São Paulo, em parceria com a ONG de pesquisa Nepsid e o CEU Parque Anhanguera, Rio de Janeiro, com o Instituto Bola Pra Frente, e Recife, com a ONG Shine a Light e a Universidade Federal de Pernambuco.

Leriana explicou ainda que o trabalho nas cidades ocorre com a contribuição da cooperação de um parceiro local que tenha interesse nesses dados de consulta e em integrar um bloco de perguntas de seu interesse. Desse parceiro, é solicitado que seja o ponto focal do projeto na região, acesso ao público-alvo e disponibilidade de pessoas que possam atuar como entrevistadores. Essa parceria é negociável e muda de acordo com o parceiro estratégico.

Na próxima semana será levado em 12 cidades: Natal (RN), Mossoró (RN), Catolé do Rocha (PB), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Maceió (AL), Canapi (AL), Manacapuru (AM), Nova Iguaçu (RJ), Itinga (MG) e Barra Velha (SC).

As cidades escolhidas foram eleitas pela alta concentração de população com baixo Índice de Desenvolvimento Humano, quantidade de casos de violência contra a criança e vulnerabilidade social local. Já o Instituto Igarapé fica responsável pela formação desses entrevistadores, fornece todo o material e treinamento, acompanhamento remoto e a plataforma de visualização. Atualmente o projeto está desenvolvendo treinamento aos entrevistadores das próximas cidades e a partir do mês que vem irá começar nas próximas cidades. Até agora já foram 30 pessoas capacitadas.

Processo de avaliação

Leriana ainda informou que os resultados das pesquisas no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife estão em processo de análise, baseado em três variáveis: faixa etária, gênero e nos módulos de intervenção da pesquisa. Os dados estão coletados, revisados e traduzidos ao inglês. Ainda não há previsão para lançamento desse estudo.

Expectativas

A ideia central é oferecer um panorama da percepção da criança sobre sua situação de violência. “Isso é uma inovação e a tecnologia é fundamental nesse processo, porque acaba viabilizando o primeiro acesso a esse grupo de maneira mais eficiente”, explicou e defendeu a pesquisadora do Instituto Igarapé. Ainda comentou que a ferramenta está chamando atenção não só de organizações sociais, mas de órgãos públicos. “Ela é barata, de fácil aplicação e com resultados rápidos”.

Senac

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