Pesquisa do Igarapé mostra as violências sofridas por defensoras da Amazônia no Brasil, Colômbia e Peru

Das 287 entrevistadas, quase a metade sofreu algum tipo de violência entre 2021 e 2022

Violência psicológica é a mais citada nos três países

Caso encontre problemas para visualizar esta página corretamente, clique aqui para baixar o press release em PDF.

 

Na Amazônia, mulheres que estão na linha de frente do combate à exploração ilegal dos recursos naturais da floresta, invasão de terras e expropriação de povos sofrem violências que vão além de seus corpos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Igarapé com 287 defensoras da bacia amazônica do Brasil, Colômbia e Peru mostra que 47% delas foram vítimas de algum tipo de violência entre 2021 e 2022 – e a psicológica aparece como a mais citada nos três países: 28% das respostas no Brasil, 30% na Colômbia e 42% no Peru. A violência moral vem em segundo lugar, com 22% de menções no Brasil, 12%  na Colômbia e 19% no Peru. 

A pesquisa foi desenvolvida com a consultoria de 13 defensoras da Amazônia, capacitadas pelo Igarapé para, a partir de suas redes de relacionamento, entrevistar mulheres que atuam na defesa dos direitos humanos e do meio ambiente na região. O objetivo foi mapear quem são, onde estão, quais seus riscos e vulnerabilidades, e provocar os sistemas de proteção a mirarem na questão de gênero para serem mais efetivos.

O problema começa na própria invisibilidade dos diferentes conflitos presentes na Amazônia, que passam por questões relacionadas ao direito à terra, à água e à preservação do meio ambiente. Muitas vezes, são mulheres que estão na linha de frente da luta por esses direitos e, por isso, acabam sofrendo diversos tipos de violência e agressões que ficam escondidos e muitas vezes naturalizados”, diz Melina Risso, diretora de Pesquisa do Instituto Igarapé.

Tão naturalizadas que nem todas as mulheres na luta por direitos humanos e na defesa do meio ambiente se reconhecem como defensoras, como mostrou um levantamento do Igarapé de 2021. O grupo de consultoras, composto por defensoras reconhecidas, como Angela Mendes, filha e herdeira de Chico Mendes, o líder seringueiro assassinado em 1988; Elizângela Baré, líder indígena do Alto Rio Negro; e a ativista de direitos humanos Claudelice dos Santos, trabalhou com o Igarapé para trazer à luz dados mais próximos da realidade dessa violência.

Nos questionários, por exemplo, elas classificaram 19 tipos de violência. Com suas diferentes identidades e nacionalidades, as mulheres entrevistadas apresentaram respostas que revelam alguns padrões. O alto índice de “desconhecidos” na indicação de quem cometeu as violências – quase a metade (49%) das menções na Colômbia, 36% no Peru e 24% no Brasil – sugere o uso de táticas de intimidação e silenciamento comuns por parte dos autores.

No Brasil, chama a atenção o percentual de respostas (16%), acima dos demais países, que aponta proprietários de terras, fazendeiros, grileiros e posseiros como os perpetradores. Também foi o país em que houve a maior parcela de citações (43%) a “meios eletrônicos”, que incluem as mídias sociais, como instrumentos de violência.

O trabalho faz parte do projeto que o Igarapé realiza há dois anos com o objetivo de reconhecer as defensoras, descortinar as violências contra elas e contribuir para sua proteção, promovendo programas de pesquisa, proteção e capacitação remunerada. A maioria das mulheres dos três países pesquisados (67% no Brasil, 57% na Colômbia e 83% no Peru) não é remunerada por sua atuação como defensora, em mais um tipo de violência e invisibilização.

Outros dados:

  • O Brasil apresenta o maior percentual de respostas para “isolamento, invisibilização e silenciamento”: 23% das mulheres ouvidas relataram ter sofrido esse tipo de violência;
  • Entre as mulheres brasileiras ouvidas, 11% disseram que os conflitos em seus territórios acontecem por causa de projetos de infraestrutura, bem acima de Colômbia (1%) e Peru, que não chegou a 1%.
  • As defensoras ouvidas que deixaram seus territórios de origem/atuação representam 44% no Brasil, 42% na Colômbia e 55% no Peru. Quando se pergunta os motivos, no Brasil e no Peru, a maior parte das respostas apontou uma necessidade econômica ou para estudar. Nos três países, porém, é interessante notar os índices de “motivos pessoais” (55% na Colômbia, 37% no Peru e 26% no Brasil), que podem mascarar violências domésticas; e a situação na Colômbia, onde 24% delas saíram por força de conflitos armados.
  • Metade das defensoras que sofreram violência na Colômbia e no Peru, e 36% delas no Brasil, contaram não ter recebido qualquer tipo de atenção.

 

A pesquisa, no formato de infográfico interativo, pode ser acessada aqui.

Saiba mais sobre as Defensoras aqui.

Mais informações: raphael.lima@igarape.org.br/press@igarape.org.br/ giovana@pensatacom.com

Sobre o Instituto Igarapé 

O Instituto Igarapé é um think and do tank independente, que desenvolve pesquisas, soluções e parcerias com o objetivo de impactar tanto políticas como práticas públicas e corporativas na superação dos principais desafios globais. Nossa missão é contribuir para a segurança pública, digital e climática no Brasil e no mundo. O Igarapé é uma instituição sem fins lucrativos e apartidária, com sede no Rio de Janeiro e atuação do nível local ao global.

The Igarapé Institute uses cookies and other similar technologies to improve your experience, in accordance with our Privacy Policy and our Terms of Use, and by continuing to browse, you agree to these conditions.

Skip to content