Em carta, líderes mundiais pedem fim da guerra às drogas

04/14/2016

RIO — A poucos dias do início da Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre drogas (UNGASS 2016), marcada para ter início no próximo dia 19, uma carta com a assinatura de mais de mil lideranças mundiais foi encaminhada ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pedindo por uma reforma “nas políticas globais de controle de drogas”, ou o fim da chamada “guerra às drogas”.

“O regime de controle de drogas surgiu durante o século passado e resultou em desastrosas consequências para a saúde, para a segurança e para os direitos humanos internacionais”, diz o documento. “Focada sobretudo na criminalização e na punição, criou um vasto mercado ilícito, que enriqueceu organizações criminosas, corrompeu governos, exacerbou a violência, distorceu mercados e minou valores morais basilares de nossas sociedades”.

Do Brasil são 94 os signatários, com nomes como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o vice-diretor das Organizações Globo, João Roberto Marinho; os deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP); os membros da Academia Brasileira de Letras Zuenir Ventura, Rosiska Darcy de Oliveira, Merval Pereira e José Murilo de Carvalho; o médico Dráuzio Varella; Paulo Vannuchi, membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA; e Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé e coordenadora do secretariado da Comissão Global de Políticas sobre Drogas.

— As políticas repressivas foram incapazes de reduzir a produção e o consumo de drogas; ao contrário: a abordagem militar de combate às drogas fortaleceu o crime organizado e tem causado problemas sociais, de saúde e segurança muito mais graves do que o consumo de droga em si — disse Ilona. — Muitos países já perceberam o erro e avançam em outro sentido. Mas ainda não é suficiente, precisamos de uma nova abordagem internacional que coloque a saúde, o bem-estar e os direitos humanos em primeiro lugar.

A coleta de assinaturas é uma iniciativa da Drug Policy Alliance, organização americana que luta contra a política da guerra às drogas nos EUA, com a descriminalização do uso e a promoção de tratamentos e redução de danos. “Governos devotaram recursos desproporcionais à repressão em vez de esforços para melhorar a condição humana”.

“A Humanidade não tem condições de arcar com os custos de insistir, em pleno século XXI, em políticas de drogas tão ineficientes e contraproducentes quanto as do século passado. Precisamos de uma nova resposta à questão das drogas, que seja baseada em evidências científicas, em compaixão, na saúde e nos direitos humanos”, insiste a carta.

De outros países, assinam a carta nomes como os dos ex-presidentes do México, Ernesto Zedillo e Vicente Fox; o ex-presidente do Chile Ricardo Lagos; o ex-presidente da Colômbia César Gaviria Trujillo; o empresário Warren Buffett; o fundador do grupo Virgin, Richard Branson; os músicos Sting e Peter Gabriel; e os atores Michael Douglas, Gael Garcia Bernal e Jane Fonda.

— Nunca antes tantas vozes respeitáveis se uniram para pedir a tão fundamental reforma nas políticas de controle de drogas. E os signatários representam apenas uma pequena fração de lideranças políticas, acadêmicos, profissionais do direito e de forças de segurança, da saúde pública e das áreas de medicina, cultura, entretenimento, negócios e religião que concordariam com seu teor e o sentimento que ela expressa — destacou Ethan Naddleman, diretor executivo da Drug Policy Alliance.

O Globo

The Igarapé Institute uses cookies and other similar technologies to improve your experience, in accordance with our Privacy Policy and our Terms of Use, and by continuing to browse, you agree to these conditions.

Skip to content