Crianças se sentem mais seguras que adolescentes, mostra pesquisa do Instituto Igarapé

rsz_street-children-787687_1920Quantas crianças e jovens são afetados pela violência no Brasil? De que maneira? Cerca de 130 mil casos de violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes foram reportados em 2012, mas estima-se que haja um nível elevado de subnotificação.

Acreditando que o diagnóstico do problema é o primeiro passo para tentar revertê-lo, o Instituto Igarapé está desenvolvendo um índice que capta a percepção da violência experimentada por crianças e adolescentes de áras vulneráveis – o Índice de Segurança da Criança (ISC). O primeiro relatório da pesquisa, relativo à aplicação do índice em Recife, Pernambuco, acaba de ser lançado.

A escolha de Recife para piloto do ISC se deve às elevadas taxas de violência da cidade. O Índice mostrou que fatores demográficos como a idade e o sexo influenciam na maneira como crianças e jovens percebem a violência. As crianças entre 8 e 12 anos entrevistadas tendem a se sentir mais seguras em casa, na escola e na vizinhança que jovens entre 13 e 17. O estudo mostrou ainda que apenas 30% das adolescentes disseram se sentir seguras na rua. Os relatos das crianças mostram que, dentro de casa, embora 55% tenham dito ser submetidas a castigos físicos – palmadas, a percepção de violência é menor.

“A grande inovação da pesquisa realizada no Recife é a incorporação da perspectiva da criança sobre a violência como um ponto de partida para a construção de políticas públicas mais sensíveis e atentas para as dinâmicas específicas da vulnerabilidade infantil”, avalia o professor de sociologia da UFPE José Luiz Ratton, que colaborou com a pesquisa em Recife.

A coleta e a análise das informações é feita por meio de uma aplicativo de celular open source desenvolvido especialmente para o projeto. Um questionário de 30 perguntas avalia risco, exposição e fatores de proteção. O objetivo é dar voz a crianças de localidades inseguras e de baixa renda, mapeando, temporal e geograficamente, suas percepções sobre violência.

“O aplicativo permite coletar  o modo como crianças e jovens vivenciam e percebem a segurança. Os dados coletados são armazenados de forma segura e podem ser visualizados em uma plataforma online que permite a rápida identificação de padrões, seja por faixa etária, sexo ou localização geográfica”, afirma Renata Giannini, pesquisadora do Instituto Igarapé e uma das autoras da pesquisa em Recife, entitulada When Children Call the Shots, redigido em inglês.

“Megaeventos como as Olimpíadas devem gerar novos riscos para crianças, especialmente meninas. Um trabalho específico de prevenção da violência e de proteção deve ser realizado. Ao mesmo tempo, podemos  dar visibilidade ao problema e, assim, dar suporte para programas que promovam o combate e prevenção à violência contra a criança no Brasil”, completa Renata.

O Índice de Segurança Cidadã já foi aplicado em Rio de Janeiro e São Paulo e, está agora sendo testado em outras 12 cidades ao redor do Brasil. O projeto é resultado de uma parceria do Instituto Igarapé com Google, Fundação Bernard van Leer, CEU Parque Anhanguera, Favela News, Instituto Bola pra Frente, NEPSID, Shine a Light, Universidade Federal de Pernambuco e Visão Mundial.

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