Meninas se sentem mais inseguras que meninos, mostra estudo

Novo estudo do Instituto Igarapé mostra percepção de crianças e jovens sobre insegurança por meio de aplicativo

Junho de 2017

Segundo o Mapa da Violência, o Brasil ocupa a terceira posição em taxa de homicídios contra crianças e adolescentes. Com o objetivo de melhorar as informações sobre este público, o Instituto Igarapé desenvolveu o Índice de Segurança da Criança (ISC), que captura a percepção de crianças e adolescentes sobre violência e insegurança. O ISC já foi testado em 14 cidades brasileiras. Esta semana, no marco do Dia Mundial Internacional das Crianças Inocentes Vítimas de Agressão (4 de junho), o Instituto lança o relatório A percepção de crianças e adolescentes sobre a segurança e a violência: aplicação do Índice de Segurança da Criança em uma escola, com os resultados da aplicação do ISC em uma escola da rede pública de São Paulo.

A escola que recebeu a equipe do Igarapé foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Centro Educacional Unificado (CEU) Parque Anhanguera. Entre as descobertas, a pesquisa mostrou que meninas e jovens do sexo feminino se sentem menos seguras do que meninos e adolescentes do sexo masculino, tanto em ambientes públicos quanto em privados (inclusive em casa e na escola). Entre as adolescentes, a grande maioria, 95%, apontou a violência sexual como o pior tipo.

A pesquisa já rendeu frutos. A escola incorporou os resultados da pesquisa na elaboração de seu projeto pedagógico, com medidas como a introdução atividades que promovam e enfatizem a importância da igualdade de gênero. “Isso demonstra o potencial de impacto desta ferramenta em ambientes escolares”, diz Renata Avelar, pesquisadora do Instituto Igarapé e uma das autoras da publicação.

“Além de detectar que ocasionalmente aulas são canceladas em razão da violência, observamos também uma percepção de insegurança relativamente alta dentro da escola”, complementa a pesquisadora.


Insegurança é mais percebida por adolescentes

A pesquisa indicou ainda que a percepção de insegurança entre adolescentes é mais alta que entre crianças. “Somente 44% dos adolescentes responderam sempre sentirem-se seguros na escola”, diz Renata. Entre crianças, independentemente do sexo, a sensação de segurança nesse ambiente aumenta, chegando a 69%.

Um dos dados mais relevantes levantados pelo ISC se refere à percepção de insegurança e violência por meninas e adolescentes do sexo feminino. “Elas tendem a se sentir mais inseguras que meninos e adolescentes do sexo masculino, em especial em ambientes públicos, como na escola e também na rua e na casa de outras pessoas”, pontua Maiara Folly, pesquisadora do Igarapé e também coautora do estudo.

Esta tendência se intensifica entre as adolescentes. Por exemplo, somente 18% das jovens responderam que se sentem protegidas por policiais, em contraste com 35% dos jovens. Estas diferenças também existem no âmbito escolar: 32% das meninas confirmaram que sempre se sentem seguras em suas escolas, em contraste aos 56% dos meninos que responderam da mesma forma. Além disso, 32% das adolescentes responderam que sempre há brigas na escola, enquanto entre meninos, este número cai para 21% quando os meninos são questionados.

Por fim, as adolescentes também parecem ter uma visão mais negativa no que diz respeito ao futuro: somente 29 % reportaram que os jovens de sua comunidade têm boas chances de ter uma vida boa no futuro. Este número contrasta com os 44% dos adolescentes do sexo masculino que responderam o mesmo.

 

Sobre o Índice de Segurança da Criança

É a primeira vez que o ISC foi aplicado no ambiente escolar.  Um total de 490 alunos – crianças (de 8 a 12 anos) e adolescentes (de 13 a 17 anos) – responderam ao questionário de 30 perguntas, divididas em seis módulos: casa/lar, escola, comunidade, pessoas seguras, violências e resiliência.

O Índice de Segurança da Criança é obtido por meio de um aplicativo de celular que registra as impressões de crianças e adolescentes de áreas vulneráveis sobre a segurança em casa, na escola e na vizinhança. “O ISC busca promover o protagonismo infantil e juvenil ao ouvir estes públicos e considerar suas percepções no desenvolvimento de políticas públicas”, afirma Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé.

O ISC também já foi testado em cidades do Rio de Janeiro, Amazonas, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Pernambuco. A metodologia deve ser adaptada e aplicada em outros lugares, inclusive no Caribe e nos Estados Unidos.


Outras publicações sobre o ISC

 

Mais informações sobre o ISChttps://igarape.org.br/indice-de-seguranca-da-crianca/

Sobre o Instituto Igarapé

O Instituto Igarapé é um think and do tank independente, dedicado à integração das agendas da segurança, justiça e do desenvolvimento. Seu objetivo é propor soluções inovadoras a desafios sociais complexos, por meio de pesquisas, novas tecnologias, influência em políticas públicas e articulação.

O Instituto atualmente trabalha com cinco macrotemas: (i)política sobre drogas nacional e global; (ii) segurança cidadã; (iii) consolidação da paz; (iv) cidades seguras e (v) segurança cibernética.

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