Aplicativo mostra que metade dos roubos de rua do Grande Rio em 2016 ocorreu em 2% da área, diz ISP

G1

Maio, 2017

Ferramenta que organiza crimes por hora e local tem ajudado a elaborar estratégias de patrulhamento; precisão é de 300 m². Treinamento de parte dos PMs começa nesta segunda-feira

Metade dos roubos de rua da Região Metropolitana do Rio em 2016 ocorreu em 2% do território. O dado do Instituto de Segurança Pública (ISP) só foi possível de ser levantado devido a uma tecnologia que tem auxiliado nas estratégias de policiamento. O aplicativo ISP Geo mapeia diariamente os crimes por hora e local, além de dividir as áreas com precisão de cerca de 300 metros quadrados. As informações georreferenciadas ajudam a planejar o patrulhamento e a tentar frear o aumento da criminalidade.
No momento, 19 batalhões de Polícia Militar e analistas da Divisão de Homicídios utilizam o aplicativo. Nesta segunda-feira (14), começa um novo curso de análise criminal para o restante das unidades da PM, com duração de duas semanas, para que os policiais aprendam a usar a ferramenta. O objetivo é agilizar a análise das manchas criminais.
Desenvolvido em parceria com o Instituto Igarapé e financiado por empresários cariocas, o sistema localiza os crimes ocorridos em um espaço de até 14 horas. Os dados são atualizados duas vezes por dia e obtidos com base nos registros de ocorrência feitos nas delegacias.
Com o uso do aplicativo, o instituto compilou dados que mostram que 50% dos roubos de rua (a coletivo, transeuntes e de celular) na Região Metropolitana em 2016 ocorreram em apenas 2% do território da região, que inclui a capital, Niterói, São Gonçalo e a Baixada Fluminense. Foram quase 28 mil roubos de rua em poucos locais, se comparados à área.
“Quando se fala em 2% do território, a gente divide em segmentos de rua. O que a gente usa são células de monitoramento, é como se a gente dividisse todo o território em quadrados de 300 metros por 300 metros”, explicou Joana Monteiro, presidente do ISP.
Segundo Joana, a identificação dos crimes por local e horário proporciona uma chance de identificar padrões que antes eram pouco visíveis.
Segundo Joana, o maior objetivo é oferecer informação de forma ágil para a Secretaria e as unidades operacionais de segurança. Os dados do Instituto são compilados a partir dos boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil.
“O ISP já tinha um sistema para isso, mas a gente entendeu que precisava de mais agilidade, para que os policiais da ponta pudessem fazer isso e para que cada um pudesse ter um entendimento melhor da sua área. Entender o crime no ponto, na esquina da rua onde ele aconteceu, é fundamental para o entendimento da criminalidade”, afirmou a presidente do ISP.

As áreas mais “quentes” mostradas no Mapa do ISP Geo para roubos de rua são nos arredores dos seguintes locais:

  • Central do Brasil
  • Rodoviária Novo Rio
  • Avenida Rio Branco com o Largo da Carioca
  • Rua Mem de Sá, na Lapa
  • Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into)
  • Metrô da Pavuna
  • Baixada

O capitão Leonardo Graciano é o chefe do setor de análises criminais do 3º Companhia de Policiamento de Área, que reúne informações dos seis batalhões da Polícia Militar na Baixada Fluminense: 15º BPM (Duque de Caxias), 20º BPM (Mesquita), 21º BPM (São João de Meriti), 24º BPM (Queimados), 34º BPM (Magé) e 39º BPM (Belford Roxo). Na sede da 3ª Companhia, seis policiais utilizam quatro telas para acompanhar as informações e os mapas de vários indicadores de criminalidade, em uma pequena sala nos fundos do terreno do Batalhão de Mesquita.
Segundo ele, o aplicativo possibilitou que consultas que demoravam horas sejam feitas em minutos, e destacou que o sistema reúne as informações que antes eram conseguidas após trabalho exaustivo com quatro plataformas diferentes.
Dados apresentados à reportagem do G1 mostram que 1.584 roubos de veículos foram cometidos em março de 2017 na região da 3ª CPA. Os números superaram e muito a meta dos batalhões, que era de 952 roubos. O mapeamento de horários revela que a maior parte dos roubos ocorreram entre 19h e 23h. Em uma das sextas-feiras do mês, houve 36 roubos entre 22h e 23h.
“Esse acompanhamento da análise criminal, da mancha criminal, não é fácil de ser feito, e às vezes existem alguns fenômenos. A incidência geralmente é maior de manhã e à noite. Só que agora eu consigo medir isso em um único dia, consigo perceber em quais ruas a mancha está maior. Amanhã, se eu quiser, eu posso mudar esse planejamento”, afirmou Graciano. “Se o crime migrar, eu também migro a estrutura do policiamento imediatamente, até para economizar recursos e não fazer um patrulhamento às cegas.”
Dados indicam crescimento
Os dados sobre violência oscilaram bastante nos últimos 10 anos no Rio. Durante os anos de José Mariano Beltrame à frente da Secretaria de Segurança, os números apresentaram grande queda de 2007 a 2012, e voltaram a subir de 2012 até os primeiros meses de 2017.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em abril de 2017, a taxa de homicídios dolosos no estado caiu de 40 em 2006 para cerca de 25 a cada 100 mil habitantes. No entanto, os desaparecimentos aumentaram em 51%.
A pesquisa faz uma análise dos indicadores de segurança do Rio de Janeiro entre 2006 e 2016, pontuando as mudanças e melhoras após a criação das Unidades de Polícia Pacificadora, em 2008, até 2013, quando o quadro começa a piorar em vários setores.
No ano de 2017, os dados de homicídios dolosos chegaram a 1.475 no primeiro trimestre, um número 17% maior do que no primeiro trimestre de 2016. De 1 de janeiro até a segunda semana de maio, havia estimativas de mais de 24 mil roubos a pedestres em todo o estado. No interior, o aumento foi de 156%; na capital, de 50%; em Niterói, de 156%; e na Baixada o aumento foi de 240%.
Em fevereiro, o número de roubo de veículos chegou a 40% em relação ao mesmo mês de 2016 (3.056 em 2016 – 4.287 em 2017). Foi o maior número registrado desde o início do ISP como instituto que apresenta os dados de segurança pública do Rio, em 1991.

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