Haitianos criticam corrupção e esperam reforma eleitoral para resolver a crise política do país, diz pesquisa
[Press Release] 3 de fevereiro de 2016
O Haiti enfrenta uma crise política sem precedentes. Desde outubro do ano passado, quando a eleição presidencial foi marcada por fraudes e irregularidades nas votações, a grande revolta popular tem se agravado, resultando no cancelamentos do segundo turno por razões de segurança. No próximo dia 7, domingo, expira o mandato do atual presidente e ainda não se sabe qual será o rumo do país. Para avaliar a situação, o Instituto Igarapé, especializado em segurança pública e cooperação internacional, deu continuidade a sua pesquisa sobre a fraude eleitoral no país e lança esta semana o estudo Análise da crise eleitoral haitiana – resultados de pesquisa.
Quase 1.800 haitianos foram entrevistados entre 17 e 22 de janeiro. De acordo com o relatório, apenas 3% dos entrevistados planejava participar do pleito em 25 de janeiro. A pesquisa indica que a percepção de fraude eleitoral teve um impacto bastante negativo no processo democrático: mais de 68% dos haitianos considera que esta foi a principal razão para a população não participar do segundo turno. A ampla maioria, três quartos da população, não confia mais no processo conduzido pela atual administração. Além disso, quase todos os entrevistados disseram que tinham votado em um dos candidatos; Jude Célestin apareceu como favorito.
O levantamento destaca que, diante do histórico de golpes de Estado no Haiti, é absolutamente crucial que o atual presidente Michel Martelly deixe o cargo no próximo dia 7. “Isso demonstraria um compromisso com a transição pacífica de poder, apesar da falta de orientação constitucional para esta situação específica. Além disso, Martelly não deve desempenhar um papel ativo nas próximas eleições, uma vez que muitos apontam para ele e seu partido político como fonte de fraudes nas duas últimas eleições”, explica Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé e um dos autores do estudo.
Segundo o especialista, a investigação sobre fraude e intimidação demanda muito tempo e capital político. No entanto, sua importância não pode ser subestimada. Ele afirma que tanto o governo quanto o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) devem adotar uma comunicação transparente com a população, reconhecer as falhas e investir no cadastro eficiente dos eleitores, principalmente, os mais jovens.
A professora da Universidade Estadual de Nova York Dr. Athena Kolbe, coordenadora da pesquisa e co-autora do levantamento, afirma que “as eleições não devem ser adiadas por mais do que alguns meses, mas os eleitores precisam ter certeza de que haverá apenas um voto para cada indivíduo. Todas as etapas do novo processo eleitoral precisam ser planejadas por pessoas cujas decisões são respeitadas pelo povo haitiano. O CEP é o órgão com autoridade sobre o processo eleitoral e muitos de seus membros renunciaram recentemente. Para prosseguir com as eleições, a instituição deve ser reestruturada e se comprometer com eleições democráticas, tornando-se um órgão legitimo e transparente“.