Tornando cidades latino-americanas mais seguras

 

Maio, 2015

Robert Muggah

 

Imagem: Editoria de Arte/Brasil Econômico

Imagem: Editoria de Arte/Brasil Econômico

As cidades da América Latina estão entre as mais violentas do mundo. A taxa de homicídios no continente é três vezes maior que a média global: das 50 cidades com mais assassinatos no mundo, 43 estão na região. Mas os tempos parecem estar mudando. Depois de décadas de prevenção da criminalidade por meio do uso excessivo da força (a chamada “mano dura”), empresários e grupos da sociedade civil estão testando novas abordagens em segurança. Como resultado, o número de crimes contra a vida nesses países vem diminuindo.

Essa revolução na forma de prevenir a criminalidade urbana tem a ver com a criação de uma nova cultura de cidadania. Inclui, entre outras medidas, o incentivo aos moradores a regularem a si mesmos e aos outros. E demanda investimentos grandes em segurança e desenvolvimento. Em toda a América Latina, vem crescendo as apostas no policiamento comunitário e em programas de coleta de armas. Aumentaram, também, os investimentos em programas de transferência direta de renda, de políticas públicas de apoio à primeira infância, e de atividades extra-curriculares para jovens do sexo masculino em situação de risco.

Os resultados têm sido impressionantes. A Ciudad Juarez, antes a mais perigosa do México, caiu para a posição 37 no ranking de homicídios após uma intervenção social massiva. A introdução de transporte público de qualidade em Medellín fez a taxa de homicídios cair em 80% em relação a 1991. Rio de Janeiro e São Paulo também testemunharam reduções de 65 e 70%, respectivamente, na última década.

Essas conquistas são notáveis se considerarmos os fatores de risco da região. A América Latina, que concentra quase 80% de sua população nas cidades e uma grande quantidade de jovens, sofre de urbanização acelerada, imensa desigualdade e altos níveis de impunidade. Além disso, enfrenta outros problemas, tais como o tráfico de drogas, a abundância de armas de fogo ilegais, cartéis e gangues cibernéticas e normas sociais que toleram a violência.

Ao invés de combater o crime colocando mais policiais e soldados nas ruas, alguns prefeitos mais esclarecidos decidiram olhar para os dados. Eles procuraram saber sobre a distribuição geográfica e temporal da violência — onde, em que momento do dia e da semana ela acontecia, e quem tinha mais probabilidade de matar ou ser morto. E o que descobriram foi surpreendentemente simples.

A violência urbana, como uma epidemia, tende a ficar concentrada em áreas específicas: locais com baixa renda e assentamentos em rápida expansão. Determinados grupos são mais vulneráveis — jovens negros do sexo masculino em situação de desemprego, por exemplo. A violência é, em geral, mais prolífica nos fins de semana, perto do dia do pagamento, e em locais onde o álcool e as drogas estão amplamente disponíveis.

Através de tentativa e erro, eles concluíram que intervenções bem-coordenadas, dirigidas a um número relativamente pequeno de pessoas, locais e comportamentos eram mais eficazes na prevenção e na redução da violência urbana que policiamento de larga escala e ações dirigidas a um grande número de pessoas.

Suas cidades se tornaram um verdadeiro laboratório de ideias inovadoras, novas tecnologias e resultados promissores. O foco é cada vez mais a construção de resiliência, e não exclusivamente a repressão. Esse tipo de abordagem integrada é comprovadamente a melhor maneira de tornar as cidades latino-americanas mais seguras.

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