PMs do Rio terão ações monitoradas por câmeras dos próprios smartphones

 

Outubro, 2015

 

Aparelhos serão equipados com um aplicativo desenvolvido pelo Instituto Igarapé. Testes incluem 100 policiais.

Tire o cinto de segurança, agora!”, gritou o policial Ray Tensing. Sam DuBose, que estava no carro, se recusou. Arrancou com o veículo e arrastou Tensing, preso à porta. Sem opção, ele sacou a arma e atirou no suspeito, morto no local.

Foi assim que o policial de Cincinnati, nos Estados Unidos, explicou a morte de DuBose, em julho deste ano. Seria essa a versão aceita, não fosse um pequeno detalhe: uma câmera, instalada no uniforme do Tensing, responsável por desmentir a história e mostrar que o tiro é disparado enquanto o carro está parado.

Depois de testes menores em comunidades como Santa Marta e Tijuca, o Rio de Janeiro começa a seguir neste mês o exemplo recente dos Estados Unidos. Policiais cariocas, assim como em Cincinnati, terão as ações monitoradas por vídeo, com uma diferença: as câmeras serão smartphones, equipados com um aplicativo desenvolvido pelo Instituto Igarapé em parceria com o Google Ideas.

“Vamos fazer um teste piloto no Rio de Janeiro, com cerca de 12 policiais usando simultaneamente as câmeras, em ciclos de 24 horas”, afirma Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé. A meta é que até 100 agentes usem as câmeras nessa fase e depois isso seja incorporado por todos os policiais “em cinco ou dez anos”, segundo Muggah, em várias cidades e países.

O aplicativo transforma o smartphone em uma câmera com GPS, e o vídeo e localização dos agentes podem ser acessados pelos comandantes em um mapa interativo. O app do projeto batizado de Smart Policing (policiamento inteligente, em inglês) deve estar disponível para download nas próximas semanas na Google Play. Uma versão para iOS também deve ser lançada no futuro.

Embora tenha potencial para evitar abusos, a inovação causa alguma controvérsia. Em tempos de vazamento de fotos na internet, há um receio de que as imagens coletadas possam cair em mãos erradas. “A maior parte da população aprova a iniciativa, o sistema é altamente seguro e a informação é criptografada, mas nossas pesquisas mostram que uma parte dos cidadãos está preocupada com sua privacidade”, afirma o diretor do Igarapé.

Alguns policiais também torcem o nariz para a inovação. “Embora o alto comando e os mais jovens aprovem a iniciativa, alguns temem que suas conversas pessoais sejam ouvidas, ou que sua privacidade seja invadida quando forem ao banheiro”, diz.

Para Muggah, grande parte dos problemas pode ser resolvido com diálogo e treinamento adequado, além de adaptações no modo como o aplicativo é usado. Mais complexo, porém, é evitar sabotagens de agentes mal-intencionados, como já ocorreu em outros casos no Rio de Janeiro, com sistemas de monitoramento nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ou nas viaturas com câmeras de vídeo. “Não podemos prevenir que policiais destruam o aparelho ou tirem a bateria”, afirma, “mas é possível detectar quando e onde isso acontece”.

A ideia é que policiais sejam obrigados a enviar uma explicação imediata quando os celulares forem desligados. A esperança é que seja a exceção, não a regra.

Igor Utsumi (texto) e Bruno Ferrari (edição), Revista Época

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