Novos líderes discutem segurança, desenvolvimento e inclusão na AL
27 de junho de 2016
Com dez das quinze economias mais desiguais do mundo localizadas na região, inclusão, desenvolvimento e segurança pública foram temas de destaque na rodada latino-americana do Fórum Econômico Mundial, realizado em Medellín.
“Temos 220 milhões de pessoas vivendo com apenas US$ 4 por dia na América Latina”, destacou o brasileiro Antonio Ermírio de Moraes Neto, que participou do painel Empreendedorismo para Prosperidade.
Fundador da Vox Capital, fundo de investimento em negócios de impacto social de R$ 84 milhões, ele aposta prioritariamente em start-ups da área de saúde, educação e finanças, tendo injetado recursos em 20 empresas ao longo de sete anos de atuação.
Para Neto, o ambiente empresarial está em transformação na América Latina, graças à uma geração que coloca a criação de impacto e de emprego (60%) acima do lucro (40%), segundo pesquisa realizada com 1.500 jovens empreendedores.
É uma nova geração de empresários, empreendedores sociais e representantes da sociedade civil que tenta suprir a ausência de autoridades brasileiras e líderes empresariais de peso da indústria nacional em encontros internacionais como o realizado na Colômbia entre 16 e 17 de junho.
“O grande ausente foi o governo brasileiro, que deixou de participar de discussões como o impacto da revolução digital nas democracias representativas”, afirmou o cientista político Leandro Machado, que participou do encontro como Young Global Líder, uma das comunidades da Fundação Schwab, organização irmã do Fórum Econômico Mundial.
“Foi gritante o silêncio das autoridades”, pontuou o fundador da Cause, primeira agência de defesa de causas e interesses públicos do Brasil.
Quem ganhou voz no encontro foram os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e da Argentina, Mauricio Macri. “Os cidadãos do século 21 são milionários em informações e bilionários em expectativas”, disse o argentino, na plenária de abertura do fórum, cujo tema central foi o impacto da quarta revolução industrial.
Os avanços tecnológicos e as grandes transformações previstas para os próximos anos vão acabar com 5 milhões de empregos em todo o mundo, segundo projeções do Fórum Econômico Mundial. “O que coloca em xeque os avanços sociais conquistados nas últimas décadas”, pontuou Marisol Argueta, chefe da entidade para a América Latina.
Segurança pública também está entre os maiores desafios da região e foi tema de vários painéis do encontro na Colômbia, que empreendeu ao longo de décadas uma guerra contra as Farc e no combate ao narcotráfico.
Sede de um dos cartéis de cocaína mais violentos e poderosos do mundo, o renascimento de Medellín é apontado como exemplo para o Brasil e para outros países da região que enfrentam sérios problemas de violência.
“Somos o país com o maior número de homicídios do mundo há décadas. Já são quase 60 mil por ano e 32 das 50 cidades mais violentas do mundo estão no Brasil”, destacou a brasileira Ilona Szabó de Carvalho, do Instituto Igarapé, que se dedica à dedicado à integração das agendas da segurança, justiça e do desenvolvimento.
Participante de painéis sobre segurança pública e combate às drogas, a brasileira foi apontada como um dos destaques da rodada de discussões na Colômbia, ao levantar questões como o impacto socioeconômico da violência. “Estima-se que os custos sociais da violência brasileira cheguem à cifra dos 258 bilhões de reais por ano, 5,4% do PIB.”
Veja o vídeo do painel sobre o narcotráfico
Convidada do encontro como Young Global Leader, ela destacou ainda o fato de o Brasil ter a quarta população carcerária do mundo. “Em dezembro de 2014, havia 622.202 pessoas presas no país, número que aumentou vertiginosamente desde a promulgação da nova Lei de Drogas, quando havia 401.236 presos no Brasil.”
Diante de tais dados, Ilona alerta para a importância de dois julgamentos em curso no Supremo Tribunal Federal. Um que discute a equiparação do tráfico simples à crime hediondo e outro sobre descriminalização do porte de drogas para uso pessoal.