Medo da violência não pode definir voto em outubro, diz diretora de centro de estudos
Para Ilona Szabó, falta embasamento para quem defende a liberação do porte de armas contra a violência
12/07/2018
Por Danielle Brant, na Folha de S. Paulo.
Armar a população não é a solução para os problemas de segurança pública brasileiros, e o medo da violência não pode definir o voto dos eleitores, afirmou, nesta quarta-feira (11), Ilona Szabó, colunista da Folha e cofundadora e diretora executiva do Instituto Igarapé.
A partir da análise de dados, o centro de estudos busca propor soluções para os problemas de segurança pública do Brasil e países do hemisfério sul.
Ilona conversou com a Folha após participar de um debate que reuniu brasileiros e estrangeiros na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York.
O tema discutido foi segurança no Brasil e como o tema tem dominado as discussões de pré-candidatos à Presidência faltando cerca de quatro meses para as eleições.
“Há um mito de que a arma é um instrumento de defesa. A arma é um instrumento de ataque”, argumenta. Armar “cidadãos de bem” é uma das plataformas do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).
A popularidade do político, que lidera as pesquisas de intenção de votoem cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez com que outros presidenciáveis, como Geraldo Alckmin (PSDB), defendessem a flexibilização do porte de arma no país.
Mas, para Ilona, o foco da discussão está equivocado. “Temos que cobrar que o Estado nos proteja, e não tentar voltar para o Velho Oeste.”
Para ela, falta embasamento para quem defende a liberação do porte de armas como solução para a violência.
“Onde funcionou o que estão propondo? No mundo e no Brasil, a maioria das pesquisas mostra a correlação entre o número de armas em circulação e o aumento de mortes por arma de fogo”, diz.
Para combater esse discurso, o centro lança, em setembro, uma campanha com o mote “não deixe que o medo decida seu voto”. A ideia é que conscientizar a população sobre todos os fatores envolvidos na segurança pública.
“É para chamar a atenção para as eleições, mas também para que a população tenha um melhor entendimento sobre esse tema. E fazer escolhas não baseadas em medo, que é o mais difícil nesse momento”, diz.
Outro objetivo é combater a ideia de um “salvador da pátria” que traria soluções mágicas para o problema.
“Estamos criando ferramentas para a prevenção ser mais inteligente. No médio e longo prazo, é isso que vai mudar”, defende a cofundadora do Igarapé.
Ilona também aposta na renovação política como forma de melhorar o debate sobre segurança pública.
“Vai demandar muitos outros ciclos eleitorais. A gente precisa ter a mudança no sistema político no país”, diz.
Para ela, esse movimento começa em cargos como deputado estadual e federal, antes de chegar a esferas mais elevadas. “Mas tem uma nova geração querendo contribuir para esse debate. Se a gente não exigir nossos direitos e não ajudar nisso, não vai acontecer.”