Ilona Szabó: “Segurança pública é tarefa de todos”
Em entrevista, especialista fala sobre desarmamento, política de drogas e o que cada um pode fazer para melhorar a situação do país
Por Fábio Prikladnicki
Publicado no Zero Hora
Empreendedora que trabalhou cinco anos no mercado financeiro antes de se dedicar ao Terceiro Setor, Ilona Szabó, 40 anos, é uma das vozes mais ativas no debate sobre segurança pública no país, tema que aflige 10 entre 10 brasileiros e que foi uma das pautas da recente corrida eleitoral. Cofundadora e diretora-executiva do Instituto Igarapé, organização apartidária e sem fins lucrativos baseada no Rio de Janeiro que propõe soluções nas áreas de segurança, justiça e desenvolvimento, é uma defensora da política pública baseada em evidências. Isso quer dizer que suas propostas partem de estudos de caso e dados que comprovam sua eficácia. Prova desse pensamento-ação é o livro Segurança Pública para Virar o Jogo (Editora Zahar, 144 páginas, R$ 20), em parceria com Melina Risso, dentro de uma campanha de informação sobre o que funciona e o que não funciona na área (paravirarojogo.com.br). A especialista concedeu a seguinte entrevista por telefone, do Rio.
Quando se debate segurança pública no Brasil, fala-se muito em repressão e encarceramento e pouco dos fundamentos socioeconômicos que levam à violência, como a desigualdade social. Como você avalia o debate público sobre segurança no país?
Um erro foi acharmos, enquanto sociedade – e é algo que ainda está forte –, que segurança é igual a polícia. Segurança pública é muito mais do que polícia. Começa na prevenção, e prevenção é uma área em que pouca gente entende o que funciona de fato. Durante muitos anos, vimos prefeitos dizendo que prevenção não tinha nada a ver com segurança. Tem tudo a ver. O principal lugar pelo qual podemos pensar em mudar o fluxo da criminalidade é o âmbito local, com políticas concentradas em lugares, grupos específicos e comportamentos mais vulneráveis à violência. Também temos de dar atenção à primeira infância, reduzir a evasão escolar, apoiar os jovens. Sabemos que há cada vez mais gente jovem tendo filho e não tendo amparo para isso. E precisamos falar de políticas de urbanismo, com a criação de espaços seguros de convivência, com melhorias, por exemplo, de iluminação. A maior parte dos municípios só entende seu papel (na segurança) a partir da Guarda Municipal. As Guardas devem ser mais próximas do cidadão, resolvendo problemas; podem até atuar em parceria com a polícia, mas no policiamento preventivo. É preciso ampliar a atual perspectiva. Agora, para haver prevenção e policiamento inteligentes, é preciso respeito aos processos legais e, por isso, uma Justiça mais ágil e eficiente do que vemos hoje. No nosso olhar (do Instituto Igarapé), deve haver um sistema de segurança pública e Justiça criminal, que começa com prevenção, o que vai envolver diferentes secretarias nos âmbitos estadual e municipal. Deve haver um Ministério Público mais responsável na fiscalização do trabalho das polícias, uma Defensoria mais fortalecida e varas de execução penal atuando com mais agilidade. E não podemos esquecer do sistema prisional, que precisa ser reformado – está errado do princípio ao fim, não cumpre seu papel de ressocializar. Foi nos presídios que o crime organizado nasceu, e é neles que se articula. Então, se não olharmos como uma responsabilidade compartilhada, se não trouxermos uma visão mais ampla, vamos, de fato, seguir enxugando gelo. Não há solução mágica. Há solução, mas não podemos tapar o sol com a peneira.