Brasil tem participação tímida em missões de paz da ONU

 

Setembro, 2015

 

Levantamento mostra que o país só passou a se destacar a partir do trabalho no Haiti

BRASÍLIA – Estudo inédito mostra que o Brasil, embora participe de missões internacionais de paz da ONU desde 1946, só se destacou a partir da década de 1990 e, sobretudo, em virtude do trabalho no Haiti. A nação caribenha recebeu 78% do contingente de 39.595 militares e policiais brasileiros enviados a áreas de conflito nos últimos 25 anos. Com o fim da Minustah prevista para o ano que vem e a crise econômica que míngua as ações diplomáticas do Brasil, surge o temor de que o país volte a uma posição de insignificância no cenário das operações de paz.

Para embasar essa discussão, um panorama completo da atuação do Brasil em missões de paz será apresentado nesta segunda-feira na 21ª Conferência Anual de Centros de Treinamento de Manutenção de Paz, que ocorre em Brasília. Os dados levantados pelo Instituto Igarapé apontam que, embora o país tenha participado de 50 missões de paz da ONU, em apenas sete houve envio de tropas coletivas, com pelotões, companhias e batalhões. No restante, foram mobilizados observadores em número menor, às vezes com apenas uma pessoa.

— É inegável que o Brasil conquistou um patamar impressionante de projeção nos últimos anos. Agora, com o fim da missão no Haiti se aproximando, não sabemos quais as estratégias para continuar. Há um risco real de perder essa trajetória de avanço — afirma Eduarda Hamann, autora da pesquisa e coordenadora do programa de consolidação da paz do Instituto Igarapé.

Segundo ela, embora não dê para “estabelecer uma relação direta de causa e efeito”, a escolha de brasileiros para cargos importantes, em âmbito internacional, é em grande medida fruto do bom posicionamento do país conquistado com as missões de paz. Eduarda cita como exemplos a eleição de José Graziano da Silva para diretor das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e de Roberto Azevedo no comando da Organização Mundial do Comércio (OMC).

PAÍS É SONDADO PARA ENVIO DE MAIS TROPAS

O Brasil está, hoje, em 10 missões de paz. As mais importantes são a do Haiti e a do Líbano, por onde já passaram cerca de 2,5 mil militares navais em uma fragata da Marinha que faz controle de fronteira marítima. A ONU já sondou o Brasil para ampliar a participação no Líbano, com a colocação de uma tropa terrestre. Mas não há nada acertado, segundo o Ministério da Defesa.

Além dessa sondagem específica, a ONU divulgou, recentemente, uma lista de necessidade de tropas, especificando o tipo, o quantitativo e os locais de aplicação. A maioria fica na África. Para o Brasil decidir atender ou não ao chamado, informou o Ministério da Defesa, é preciso que haja uma manifestação de interesse do Itamaraty para empregar tropas.

Depois disso, ainda segundo a Defesa, é preciso avaliar a “disponibilidade e os custos de preparo e emprego dessas tropas”, além de cumprir um trâmite burocrático, que passa pelo aval da presidente Dilma Rousseff, que tem de submeter a proposta ao Congresso Nacional, a quem cabe a aprovação em última instância. O Itamaraty não retornou o contato da reportagem para se manifestar sobre a continuação do Brasil nas missões de paz pelo mundo.

Renata Mariz, O Globo

Leia o artigo completo de Eduarda Hamann “A força de uma trajetória – O Brasil e as operações de paz na ONU

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