Bombas fabricadas no Brasil foram usadas no conflito no Iêmen, diz HRW
23 de dezembro, 2016
Bombas de fragmentação (cluster) fabricadas no Brasil pela Avibras teriam causado a morte de dois civis e deixado seis feridos, entre eles uma criança, em um ataque no dia 6 de dezembro no Iêmen, segundo relatório divulgado nesta sextafeira (23) pela Human Rights Watch.
As bombas de fragmentação contêm explosivos menores que se espalham e matam de forma indiscriminada. Além disso, muitas dessas bombas menores não explodem na hora, causando mortes de civis posteriormente.
Uma convenção de 2008, assinada por 119 países, proíbe a fabricação, venda e uso de armas e munição de fragmentação, mas o Brasil não é signatário.
Mais de 10 mil pessoas já morreram no Iêmen desde março do ano passado, quando uma coalizão liderada pela Arábia Saudita começou uma campanha militar contra as milícias xiitas houthis e forças leais ao expresidente Ali Abdullah Saleh, que querem tomar poder no país.
Segundo a HRW, a coalizão liderada pelos sauditas usou os foguetes contendo as bombas de fragmentação brasileiras na cidade de Sadaa.
“O Brasil precisa saber que seus mísseis estão sendo usados em ataques ilegais na guerra do Iêmen”, disse Steve Goose, diretor da seção de armas da Human Rights Watch. “Munições de fragmentação são proibidas e não deveriam ser usadas em nenhuma circunstância, por causa do dano que causam a civis. O Brasil deveria se comprometer imediatamente com a suspensão da produção e exportação de bombas de fragmentação.”
Também foram identificadas na guerra do Iêmen bombas de fragmentação fabricadas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. Mas os EUA, que também não são signatários da Convenção, suspenderam em maio a transferência de bombas de fragmentação para a Arábia Saudita.
E em 19 de dezembro, a coalizão liderada pela Arábia Saudita anunciou que iria parar de usar as bombas feitas no Reino Unido —mas não excluiu a possibilidade de continuar usando bombas de fragmentação fabricadas em outros países.
Já haviam sido localizadas armas brasileiras no Iêmen. Em outubro de 2015, a Anistia Internacional divulgou relatório afirmando que bombas de fragmentação fabricadas no Brasil haviam ferido ao menos quatro pessoas em um ataque no norte do Iêmen.
Pesquisadores da Human Rights Watch entrevistaram testemunhas e fotografaram as armas. Segundo eles, foram encontrados destroços do Astros II, um sistema de lançadores múltiplos de foguete da Avibras, perto de duas escolas.
Contatada pela reportagem da Folha, a assessoria de imprensa da Avibras não havia se pronunciado até a publicação desta reportagem.
“De um lado, a diplomacia brasileira se empenha pela resolução de conflitos, mas por outro lado, o Brasil viola direitos humanos ao vender bombas de fragmentação a países em guerra e não ter nenhuma transparência na política de venda de armas”, disse à Folha Nathan Thompson, pesquisador do Instituto Igarapé.
Segundo Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil, “o Brasil precisa aderir, finalmente, à convenção internacional (que proíbe as bombas de fragmentação); mais de 10 mil pessoas morreram no Iêmen e o Brasil continua vendendo armas.”