Brasileiros nomeados líderes globais pelo Fórum Mundial contam suas experiências

 

Julho, 2015

 

Todos os anos, o Fórum Econômico Mundial nomeia um grupo de pessoas como Jovens Líderes Globais. Nesse ano, quatro brasileiros integram a lista com quase 200 participantes.

Eles são Leandro Machado, cofundador da Cause, Ilona Szabó de Carvalho, diretora executiva do Instituto Igarapé, Mariana Luz, chefe do departamento de relações institucionais da Embraer, e Ronaldo Lemos, professor, diretor do Creative Commons no Brasil, colunista da Folha.

Para ser nomeado como Jovem Líder Global, é preciso estar em uma posição de liderança com menos de 40 anos, ter comprometimento no serviço à sociedade, além de um histórico público impecável e bom posicionamento em sua comunidade.

Não é possível se inscrever na seleção, os jovens devem ser indicados por outras pessoas. Então, a empresa de recursos humanos Heidrick and Struggles realiza uma pesquisa sobre sua atuação profissional e trajetória dos candidatos. Por fim, a lista com cerca de duas centenas de nomes é aprovada por um comitê presidido pela Rainha Rania Al Abdullah, da Jordânia.

A partir da nomeação, os líderes devem participar ativamente e se comprometer por seis anos à missão da organização, participando do encontro anual do Fórum Econômico, em Davos, na Suíça, e de outras reuniões, quando se espera que desenvolvam redes colaborativas e se engajem em projetos que busquem soluções para desafios globais.

Conheça a história de alguns brasileiros nomeados Jovens Líderes Globais em 2015:

“Filantropia brasileira deve ser tomadora de risco”

Ilona Szabó de Carvalho, 36, começou a carreira em um banco de investimentos, mas logo migrou para o terceiro setor. Acumulou experiências como coordenadora da campanha do desarmamento no Brasil, em meados da década de 2000, e foi co-roteirista e principal pesquisadora do documentário Quebrando o Tabu, sobre a política de combate às drogas.

Em 2008 criou o Instituto Igarapé, dedicado a pesquisa e ação nas áreas de política de drogas nacional e global, segurança cidadã e cooperação internacional. “No Instituto Igarapé, a experiência se consolidou. Ele traz um pouco de tudo o que eu fiz”, ela diz.

Aos 36 anos, ela acredita que seu trabalho como coordenadora-executiva da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi um dos pontos que levou o Fórum Econômico Mundial e nomeá-la uma Jovem Líder Global.

Carvalho diz que o trabalho do empreendedor social brasileiro é “extremamente desafiador” e afirma que a filantropia brasileira é mais ligada ao marketing do que à transformação social e tem medo de apoiar causas espinhosas como a redução duradoura da violência e questionamentos da política de “guerra contra as drogas”.

Em razão disso, ela diz que 90% do financiamento dos projetos do Igarapé vem do exterior, com apoio de fundações e governos. O reconhecimento maior também vem de fora, ela relata: “Não recebemos recursos do governo brasileiro. Queremos ser uma voz independente, apartidária.”

“Uma das coisas que vou passar a levar (para o Fórum) é que a filantropia no Brasil precisa ser tomadora de risco assim como nos negócios. Meu sonho de consumo é que o Igarapé seja sustentável financeiramente. Quero mostrar que há temas difíceis que são entraves para o desenvolvimento”, ela diz.

“Para sermos um país desenvolvido, queremos discutir a segurança cidadã e não o aumento de penas, buscando respostas duradouras e sustentáveis. Somos o país com maior número absoluto de homicídios e o terceiro maior encarcerador no mundo. Não podemos estar na posição econômica e de liderança regional em que estamos e ao mesmo tempo aceitar que nossos recordes de segurança sejam absolutamente negativos”, afirma Carvalho.

“Lobby tem que ser feito com transparência”

Formado em Ciência Política, Leandro Machado, 37, trabalhou na área de relações governamentais em grandes empresas, quando esse setor estava nascendo, nos anos 2000.

“Ainda era uma área com muito preconceito, problemas éticos, mas eu tinha a intuição de que dava para fazer algo diferente, mais sério”, ele diz.

Na Natura, foi responsável por estruturar o setor e estabelecer rotinas. “Busquei transparência e ética. Criamos o registro de toda a informação e quatro práticas importantes: as políticas de lobby, não doação para companhas políticas, anticorrupção e suborno e relacionamento com governo”, ele diz.

Sobre a atividade de lobby, que é legalizada nos Estados Unidos e consiste em pressionar o governo em favor de interessas de um grupo, Machado afirma: “O lobby é muito diferente de corrupção, mas esse tema ainda é muito estigmatizado. Sempre há uma confusão em tentar ligar uma atividade ilícita ao lobby, às relações governamentais ou institucionais”.

Ele critica o fato de pessoas ligadas a esquemas de corrupção serem identificadas como lobistas e defende a legitimidade do direito de pressão da sociedade: “O lobby tem que ser feito com transparência. Toda instituição da sociedade civil pode fazer pressão legítima e legal com o governo, pois, às vezes, os interesses são conflitantes. As atividades de pressão são inerentes à sociedade”, ele diz.

Depois de atuar como relações públicas na campanha de Marina Silva à presidência em 2010 e fundar a Raps (Rede de ação política pela sustentabilidade), que promove formação política, Machado criou a Cause, a primeira agência brasileira de “issues advocacy”, ou defesa de causas.

“É uma empresa que desenha estratégias e planos de mobilização em torno de causas de sustentabilidade, direitos humanos e novas formas de expressão democrática. É, basicamente, tudo o que eu fiz na vida transformado em uma empresa”, ele diz.

Ele ainda afirma que acredita que foi escolhido pelo Fórum por sua atuação em contato com governos e políticos buscando transparência.

“É uma oportunidade para trazer valor para as instituições que represento”

Além de atuar como gerente de relações institucionais e sustentabilidade da Embraer, Mariana Luz, 34, é a diretora do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa, entidade responsável pelas iniciativas de responsabilidade social da empresa.

Luz também é professora do curso de relações internacionais da Faap e trabalhou por nove anos no Centro Brasileiro de Relações Internacionais, com uma agenda de políticas públicas e sustentabilidade.

Ela afirma que a nomeação significa uma “imensa oportunidade profissional” para trazer valor às instituições que representa, e acrescenta: “Sem dúvida, é também uma oportunidade pessoal, de conhecer pessoas com visões de mundo diferentes, oriundas de outras culturas”.

Os jovens líderes ainda podem participar módulos de gerenciamento e formação de lideranças especificamente elaboradas para o programa nas Universidades de Harvard, George Mason e Yale, nos Estados Unidos, e na Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Cingapura.

“O Fórum quer contribuir para formar essas pessoas e, ao mesmo tempo, ajudá-los a estabelecer contatos com tomadores de decisão em nível mais sênior”, afirma Luz.

Folha de São Paulo

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