A segurança pública no futuro

O mundo experimenta uma revolução quando se trata do uso da tecnologia na segurança pública. O colossal volume de dados gerados por dispositivos digitais, aplicativos de monitoramento e sistemas que possibilitam a visualização geográfica de manchas criminais são exemplos de ferramentas já usadas com alto potencial de modernização do enfrentamento e da prevenção da violência. Nem todas as partes do mundo vivenciam tal transformação com a mesma agilidade, no entanto. Em alguns lugares, como no Rio de Janeiro, ela vem ocorrendo de maneira mais branda.

Para colocar em perspectiva tais avanços, é importante lembrar que a elaboração de políticas de segurança pública eficientes e de longo prazo precisa fundamentar-se em dados e evidências de qualidade. Isso porque já ficou comprovado que o crime e a violência se concentram em períodos de tempo, espaços e indivíduos específicos. Sem informações precisas sobre as ocorrências criminais, é praticamente impossível planejar de maneira eficaz a distribuição do efetivo, ou mesmo identificar padrões criminais e antecipar riscos futuros.

Examinemos o caso do Estado do Rio em particular. As estatísticas e análises sobre criminalidade são construídas a partir dos registros de ocorrência feitos em delegacias da Polícia Civil passados ao Instituto de Segurança Pública (ISP), vinculado à Secretaria de Segurança. Então, as informações são agrupadas em cerca de 40 tipos de delitos e integradas em divisões territoriais adotadas pela mencionada pasta. Para que ocorra a divulgação dos dados, até um mês se passa. Não é imediata tampouco a chegada das informações aos cerca de 50 mil policiais militares a quem elas servem de precioso insumo para o trabalho hercúleo no estado, que registrou cinco mil homicídios ano passado. A lacuna de tempo no processamento dificulta, sobretudo, que os órgãos de segurança sejam capazes de prever crimes que podem ser evitados.

A boa notícia é que uma nova ferramenta de análise criminal, lançada em fase piloto este mês, marcará um progresso significativo no caminho para uma abordagem mais eficaz e transparente. A plataforma ISPGeo, baseada na identificação de manchas criminais (também chamadas de hotspots), integra distintas bases de dados em um só mapa. Avança especialmente em relação aos seguintes pontos: a qualidade e o padrão de coleta dos dados, o georreferenciamento dos crimes e a visualização de áreas com maior concentração de incidentes, e o enfoque em informações chave, em vez de números aleatórios. A solução tecnológica é fruto de uma soma de forças de Estado, terceiro setor e empresários com espírito público. Em um momento de austeridade, possibilita uma alocação mais ágil e eficaz de recursos.

Fica claro que a segurança do Rio está aprimorando suas capacidades de análise criminal e, aos poucos, se integrando à transformação tecnológica global em curso. Antes da nova plataforma, a Secretaria de Segurança já havia implantado o Sistema Integrado de Metas e Acompanhamento de Resultados (SIM), fortalecendo a prevenção e o controle qualificados de crimes.

Embora necessários e celebrados, esses avanços ainda são insuficientes. As soluções tecnológicas precisam continuar integrando o trabalho das duas polícias e virem acompanhadas de melhorias no treinamento das forças de segurança, da consolidação de uma liderança estratégica, além da continuidade das ações. Assim, de fato, estará configurada uma real revolução.

Por Ilona Szabó de Carvalho e Florencia F. B. Robalinho
Artigo de opinião publicado em 30 de julho de 2016
O Globo

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